Papa Francisco institui Dia Mundial dos Avós e dos Idosos

“Diário de uma avó e de um neto em casa Confinados”

domingo, 1 de fevereiro de 2021

Querida avó,

Estou tão feliz com esta decisão do Papa Francisco.

Sei que em Portugal já temos o nosso Dia dos Avós que se comemora em data fixa, no dia 26 de julho.

Aliás, devido ao trabalho que tenho feito sobre este tema no site Retratos Contados, nos últimos anos, sou frequentemente solicitado, para nesse dia ir à TV e à Rádio falar do trabalho que desenvolvo pela valorização da ligação entre avós e netos.

Dias para celebrar os avós e os os mais velhos nunca são demais! Para mais, nós adoramos celebrar tudo e mais alguma coisa.

Esta celebração será realizada a partir deste ano, no quarto domingo de julho, próximo à festa dos Santos Joaquim e Ana, avós de Jesus e permitirá, como anunciado neste domingo por Francisco no final da oração do Angelus, recordar e celebrar o dom da velhice e daqueles que, antes de nós e para nós, guardam e transmitem a vida e a fé.

Ou seja, uma data bem próxima daquela que em Portugal já se assinala o dia.

O Dia dos Avós em Portugal, é uma comemoração “recente”, foi promulgada pela Assembleia da República no dia 4 de Junho de 2003. Faz este ano 18 anos.

Mas foram necessários muitos anos, mais precisamente 17, para que isso fosse possível, e graças à luta  persistente de D.Aninhas uma avó de Penafiel.

Felizmente, ainda foi a tempo de ver o seu sonho tornar-se realidade.

Mas sobre isso tudo falar tu, pois sei que é um assunto que te é querido.

Beijinhos.

Tem um dia feliz.

Querido neto,

Dentre todas as qualidades que o mês de julho traz consigo (as fe´rias serão, possivelmente, as melhores de todas…) uma que nos deve também mobilizar é a celebração do Dia dos Avós.

Se desde temos imemoriais se festeja o Dia do Pai e o Dia da Mãe, por que razão não se deveria festejar o Dia dos Avós??

Vá lá que atualmente já se se vai festejando em quase toda a parte. Embora nas mais diversas datas. Uns países incluem este dia dia no Dia do Idoso, que se foi instituído pela ONU e é festejado no dia 1 de outubro. O que não é a mesma coisa! Ser avó é ótimo, ser idosa é ter logo mais 20 anos em cada ombro.

E assim um Dia dos Avós um pouco ao gosto do freguês….

A Itália associou os avós ao Anjo da Guarda (o que não deixa de ser bonito…), e celebra-os nesse dia, a 2 de outubro.

A Polónia tem mãos largas, e vai daí, festeja os Avós no dia 26 de julho e o Avôs di dia seguinte. Assim todos ficam contentes e não há discriminações.

Nos Estados Unidos é mais complicado: O dia dos Avós é festejado no primeiro domingo depois do “Labor Day”, ou seja, no primeiro domingo depois da primeira segunda feira de setembro…

No Paraguai é a 5 de maio; no México, a 28 de Agosto, na Austrália, no primeiro domingo de novembro … e por aí fora. Uma CANSEIRA!

E, Portuga, Espanha e Brasil, foi escolhido o dia 26 de julho.

Data que tem toda a razão de ser, uma vez que nesse dia se evocam S. Joaquim e Santa Ana, pais da Nossa Senhora, avós de Jesus Cristo.

Mas o que é facto é que por cá a comemoração levou tempo a assentar.

Quando se fala do “Dia dos Avós” é assim um pouco como se falássemos do Dia da Mãe, ou Dia da Criança”, existe, e ainda bem que existe, mas ninguém se preocupa em saber como é que ele chegou até nós.

Realmente, se nos últimos 17 anos celebramos esse dia em Portugal isso é graças à resiliência e persistência de D.Aninhas de Penafiel.

Nascida em 1926,  Ana Elisa do Couto Faria cedo percebeu o valor  dos mais velhos na vida dos mais novos—como transmissores de cultura, de história, de valores. E como mesmo as normais relações diárias  entre avós e netos eram importantes porque, como dizia muitas vezes, “é mais importante pedir conselhos do que dá-los.” E como por tudo isso o país se devia empenhar em ter, oficialmente, um Dia dos Avós.

Desde 1981 que não parou um momento nessa luta.

Ela contactou grandes figuras da Igreja, políticos, deputados, ministros, presidentes da república, autarquias, artistas, escritores,  atletas, comunicação social.

Ela correu o pais de lés a lés a colar cartazes e a falar com as pessoas.

Ela fez viagens a países onde houvesse uma grande comunidade portuguesa como o Brasil, a França, a Suíça, a Itália.

Até que finalmente, no dia 4 de Junho de 2003 , a Assembleia da República promulgava oficialmente o dia 26 de Julho—dia de S. Joaquim e Santa Ana, os avós de Jesus—o Dia Nacional dos Avós

“Valeu a pena”.—foi o que ela disse quando recebeu a notícia.

D. Aninhas ainda festejou essa data com os seus netos durante três anos. Depois de um AVC que a deixou inativa, morreu em 2007.

Nesse ano a Câmara de Penafiel mandou colocar uma lápide numa parede com o seu retrato e o agradecimento de todos os penafidelenses por toda a sua luta—e um dos filhos, António Couto Faria, publicou um livro com a biografia da mãe, a história de todas as suas lutas, documentos,  cartas e entrevistas.

“Sim, Vale a Pena”—é o título.

E não podia ser outro.

Claro que os avós atualmente são muito diferentes dos avós de há anos. Felizmente cada vez estamos mais longe do tempo em que os avós não tinham vida própria, porque toda a sua vida se fazia e se pensava em função dos netos , como aliás anteriormente já se tinha feito e pensado em função dos filhos.

Hoje as avós, tal como as mães, trabalham fora de casa, têm namorados, gostam de viajar, têm os seus grupos de amigos, gostam de ter tempo para o que querem e, muitas, não estão para ser avós a dias.

Mas o que é curioso é que, mesmo novas, razoavelmente elegantes, por vezes até de cabelo à madeixas … todas ficamos sempre presas ao estereótipo que os nossos netos têm de nós. Peçam-lhes o desenho de uma avó, e aí vamos nós de carrapito, óculos, avental, chinelos, bengala e uma leve corcunda a despontar nas nossas costas.

Nada a fazer!

Será sempre, sempre assim que eles nos irão desenhar.

Somos, em pessoa, o equivalente às casas que eles desenham no alto de um monte, com uma porta e duas janelas, telhado em v ao contrário, e nuvens de fumo a sair pela chaminé, mesmo que tenham vivido sempre em condomínios ou prédios de muitos andares, em ruas atafulhadas de trânsito, e nunca tenham visto fumo a sair pela chaminé em toda a sua vida.

Mas, mesmo carregando com todos os estereótipos, as avós (e os avôs, claro…) são fundamentais na vida de uma criança, nunca para substituirem os pais, mas para os fazer participarem em histórias, recordações, descobertas de um tempo que é só deles.

Por isso já dizia o grande pedagogo que foi o Prof. João dos Santos “uma criança não pode viver sem uma avó e sem uma aldeia. Se não as tiver, é preciso inventá-las.”

Não sei se conhecias a história da D. Aninhas e todas estas histórias em volta do Dia dos Avós. Mas é precisamente para isto que as avós serve.

Beijos. Bom confinamento.

Ana Elisa do Couto, mentora do Dia dos Avós, aqui junto de Alberto Santos, presidente da Câmara Municipal de Penafiel até 2013, e o então bispo auxiliar do Porto, João Miranda Teixeira. Foto: Direitos reservados

Outros capítulos aqui: “Diário de uma avó e de um neto em casa Confinados”

Noticias do Vaticano.

Gabriella Ceraso, Silvonei José – Vatican News

A nossa memória, as raízes dos povos, a ligação entre gerações, um tesouro a ser preservado. Isto é o que os idosos e os avós são no pensamento do Papa, um verdadeiro “presente” cuja riqueza muitas vezes esquecemos. Por esta razão, como anunciado no final do Angelus, Francisco decidiu dedicar-lhes um Dia Mundial, a partir do próximo mês de julho. O ponto de partida do Pontífice é a Festa da Apresentação de Jesus no Templo, em 2 de fevereiro, quando dois idosos, Simeão e Ana, “iluminados pelo Espírito Santo, reconheceram Jesus como o Messias”. E esta é a primeira grandeza daqueles que nos precederam no caminho da vida:

O Espírito Santo ainda desperta pensamentos e palavras de sabedoria nos idosos: sua voz é preciosa porque canta os louvores de Deus e conserva as raízes dos povos. Eles nos lembram que a velhice é um presente e que os avós são o elo entre as diferentes gerações, para transmitir aos jovens a experiência da vida e da fé”.

Um Dia para não esquecer

Hoje, mais do que nunca devido à pandemia que primeiro os colocou em risco e sacrificou tantos, os idosos muitas vezes permanecem sozinhos e longe de suas famílias, e ao invés disso, devem ser preservados como uma memória a ser transmitida. Daí a decisão do Papa:


“O Espírito Santo ainda desperta pensamentos e palavras de sabedoria nos idosos: sua voz é preciosa porque canta os louvores de Deus e conserva as raízes dos povos. Eles nos lembram que a velhice é um presente e que os avós são o elo entre as diferentes gerações, para transmitir aos jovens a experiência da vida e da fé.

Os avós, tantas vezes são esquecidos e nós esquecemos esta riqueza de conservar as raízes e transmitir. E por esta razão decidi instituir o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, que será celebrado em toda a Igreja, todos os anos, no quarto domingo de julho, próximo à festa dos Santos Joaquim e Ana, os avós de Jesus”.

Avós e jovens: sonho e profecia

Dos avós aos jovens: o vínculo é muito estreito, o diálogo deve ser constante. O Papa tem reiterado isto muitas vezes ao longo do tempo, até mesmo dizendo que sonha com “um mundo que viva precisamente do abraço deles”. Foi o que retornou a enfatizar nesta ocasião especial:

É importante que os avós se encontrem com os netos e que os netos se encontrem com os avós, porque – como diz o profeta Joel – os avós diante dos netos sonharão, terão a ilusão e os jovens, tomando força dos avós, seguirão adiante, profetizarão. E precisamente 2 de fevereiro é a festa do encontro dos avós com seus netos.