“Diário de uma avó e de um neto”
Sábado 17 de julho 2021

Querida avó como estás?
Já levei a 2º dose da Pfiser. O próximo passo é tratar do meu Certificado Digital.
Agora é deixar passar estas duas semanas. Depois, como diz a letra da canção “Andorinhas” da Ana Moura: “Eu quero tirar os pés do chão; Quero voar daqui p’ra fora e ir embora de avião; E só voltar um dia; Vou pôr a mala no porão …”
Se bem que este ano é mais “Vá para fora cá dentro ”.Sinto vontade de viajar, claro. Mas vou ficar Portugal!
Já não aguento as notícias sobre o Joe Berardo e o Luís Filipe Vieira. Como tal, fui ver “Espero por ti no Politeama”. Como não podia deixar de ser, o nosso querido La Féria perguntou por ti: “Diga lá à sua avó que “Espero por ela no Politeama” assim que ela meter os pés em Lisboa”!
Senti-me muito seguro. Tudo com as devidas distâncias …Vais gostar imenso da revista! Tal como me disse o Filipe “É uma revista-cabaret e também um pontapé, porque é uma sátira a tudo o que se passa neste jardim à beira mar plantado”. Tal como já fez no passado, são Retratos Contados da atualidade social, política, desportiva e artística, passados em revista. Adoro o trabalho desenvolvido por este alentejano.

Por falar em alentejanos, finalmente fui conhecer um restaurante alentejano mesmo junto à tua casa. O Degust’AR Lisboa, fica na Latino Coelho mesmo junto à Nunciatura.
Adorei! Senti-me a almoçar no Alentejo sem sair de Lisboa com uma seleção única de pratos regionais e não só. Nestes tempos tão atípicos que vivemos sabem-nos pela vida! Quando vieres a Lisboa levo-te ao Degust’AR Lisboa.
Vou convidar o Filipe Lá Féria para vir almoçar connosco. Estou aqui com umas ideias que quero partilhar convosco. E mais não digo (por agora).
Quando for ter contigo à Ericeira trato do teu certificado. Assim, não precisas de te preocupar com idas aos restaurantes aos fins de semana.
Bjs diverte-te.
Querido neto,
Tens razão: o velho slogan “vá para fora cá dentro” ressuscitou mas, infelizmente, por outros motivos.
Isto anda outra vez feio, e o mais seguro é ficar em casa.
Como estás farto de me ouvires dizer, a única coisa de que não gosto é de pera abacate! Mas, tirando isso—como de tudo. Obrigaram-me muito pequena. (Felizmente quando eu era criança, ninguém sabia o que era pera abacate…).
Um dia, quando eu disse que não gostava de feijão, fecharam-me à chave no meu quarto durante dois dias, sem comer rigorosamente nada. Claro que, ao fim do segundo dia, eu saí do quarto a comer tudo e mais alguma coisa.
Mas há coisas de que eu gosto mais do que doutras, o que é natural.
Por exemplo: adoro um prato de que nunca deves ter ouvido falar, mas que é um prático típico da Ericeira apesar de nenhum restaurante o servir: “caneja de infundice”. A caneja é uma espécie de cação e foram os pescadores daqui que inventaram este modo de a cozinhar.
Então o peixe é pescado, e tem de ficar cru durante 15 dias embrulhado num pano e metido dentro de uma gaveta—sem ir ao frigorífico, evidentemente.
Ao fim dessas duas semanas imaginarás como está o peixe. Mas assim é que é bom. Cheira a amoníaco que tresanda, e coze-se. No fim deitamos um fio de azeite, que fica logo branco. Deve sempre comer-se com o “cemitério” ao lado (nome que se dá a um prato para pôr as espinhas e a pele, antes de o partir em pedaços) e à medida que o tempo passa, o cheiro a amoníaco fica cada vez mais intenso.
Por isso só se pode comer este manjar na praia, ou noutro sítio ao ar livre—e mesmo aí o cheiro mantém-se.
E até existe uma “Confraria da Caneja da Infundice” aqui na Ericeira!
Claro que o vírus fez parar tudo isto—e nem acreditas as saudades que eu tenho!!
Claro que quando voltar a Lisboa vamos a esse restaurante com o La Féria.
Gosto imenso de comida alentejana e desse alentejano!
Fica bem. Bjs
Outros capítulos aqui: “Diário de uma avó e de um neto.”
