“Retratos Contados de Vanessa Fidalgo”

África Minha

Na minha família, as histórias vieram de longe. São histórias de quem deixou cedo a terra e as raízes, para desbravar mundos melhores e mais livres. Em Moçambique cresceu o meu pai, em Angola nasceu a minha mãe. Juntos e enamorados, acabariam por chegar à África do Sul. Já eu, cresci em Lisboa, que na minha infância cheirava a castanhas assadas, fezes de pombos e ao chocolate quente da Pastelaria Suíça que nos aconchegava nas tardes frias de inverno. Mas as histórias que eu cresci a ouvir, traziam no ventre a terra vermelha e escaldante, os bichos selvagens. Cheiravam a pitanga, a goiabas maduras e falavam da minha família. Só muito esporadicamente via os meus avós, que corajosamente teimaram em viver as suas vidas em África muito para além do 25 de Abril.

Mas sei que dentro de mim mora o seu exemplo do seu espírito intrépido. Quantas vezes, sobretudo quando procuro algum alento, recordo a minha mãe a falar da avó Arminda, que abria a casa e os braços a todos, sem olhar à cor da pele ou à opinião alheia; ou do avô Manel, que trabalhava de sol a sol tentando ficar indiferente a lutas, a regimes e a guerras.

Da minha avó Maria guardo a mais importante das lições. Num tempo em que o divórcio lhe era vedado em Portugal, fugiu para África em busca do verdadeiro sentido do amor… Às vezes é preciso partir a loiça toda para reivindicar o direito a ser feliz.       

A minha avó Maria e o tio Norberto no dia do meu batizado!

Eu já não tenho avós, mas vejo agora crescer as minhas filhas perto dos seus. Sei que só muito mais tarde elas perceberão o privilégio que é ter avós por perto, ouvintes atentos, preocupados, prontos a encher a vida delas com ternura e aconchego. Às vezes, um colo, é tudo o que é preciso.  Que saibam, quando adultas, seguir-lhes as pisadas. Que saibam dar colo e cuidar – dos novos, dos velhos e de todos os outros que adotarem pelo caminho – porque neste curto trajeto que é a vida, os laços verdadeiramente importantes são os dos afetos. 


A minha avó Arminda, que nos deixou recentemente. Esta foto foi tirada em 2013, numa tarde em que fomos lanchar. Duas coisas que sempre adorou: passear e  lanchar! Esta foto foi (muito bem) tirada pela minha filha, que na altura tinha para aí 3 anitos. A minha mãe não aparece mas também lá estava. Foi um encontro de quatro gerações de mulheres.

 Pelos Caminhos Assombrados de Portugal

 

Da curiosidade, da singularidade e da profícua imaginação popular nasceram a maioria das histórias que povoam a nossa tradição oral. Transmitidas de boca em boca e depois de geração em geração até aos dias de hoje, as histórias de fantasmas, bruxas e antigos heróis – que ninguém sabe ao certo se realmente existiram – tornaram-se parte imprescindível da identidade de uma comunidade.

Num país onde é quase impossível encontrar uma aldeia ou encruzilhada que não tenha uma lenda povoada de detalhes misteriosos e criaturas sobrenaturais – nem que seja um simples “bicho papão” para amedrontar os forasteiros -, Pelos Caminhos Assombrados de Portugal, o novo livro da jornalista Vanessa Fidalgo, propõe uma visita a muitos dos cantos e recantos de Portugal onde a memória popular não falhou e onde, sem receios nem vergonhas, há um povo que continua a identificar-se com a sua história, as suas tradições populares e a mais peculiar herança dos seus antepassados: o seu património oral.

Um livro da Editora: Saída de Emergência

A Vanessa Fidalgo vai estar na Feira do livro.

Passem lá para para a saber mais sobre o seu livro.

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