“Todos os dias lembro-me da minha avó Alda!”
Escrever sobre a minha avó é sempre difícil para mim!
A minha avó merecia o mais belo poema, ou o mais belo texto. E eu nunca terei essa capacidade.
Talvez ficasse feliz com o texto mais simples – ela era uma mulher simples. Mas até a simplicidade tem de ser bela! E eu nunca terei essa capacidade mesmo na simplicidade.
Todos os dias lembro-me da minha avó Alda. Não que tenha saudades da sua comida, até porque não era grande cozinheira, mas tenho saudades da sua presença, resiliência, dos seus valores.
A minha avó Alda – ou Aldinha como era carinhosamente tratada por todos – ensinou-me o que é a honestidade e rectidão, a verdade e lealdade e que devemos estar sempre prontos para nos darmos aos outros. Foi sempre uma mulher disponível para os outros.
Tenho saudades de a ver à minha espera, na janela da sua casa de pedra, quando sabia que eu ia lá almoçar. Hoje quem espera sou eu quando ali passo. E curioso é que a minha avó aparece à janela, basta que feche os olhos!
Lutou contra as várias doenças que foi tendo ao longo da vida, sem nunca se queixar. Não era mulher de se queixar mas de aceitar. Perdeu o marido antes de completar 40 anos e criou sozinha as duas filhas. Sem nunca se queixar…
Recordo os seus ensinamentos e valores e as longas conversas que íamos tendo. E sempre falámos de tudo sem grandes tabus. Passamos horas a discutir política, religião e os acontecimentos da actualidade. Mas o que mais me fascinava eram as suas histórias e memórias. Histórias de quando era criança – sim, as avós também foram crianças – mas também as peripécias da sua juventude e de um país atrasado, pobre e fascista.
Nunca a ouvi dizer que “naquele tempo é que era”, bem pelo contrário. Gostava do tempo actual, da liberdade e modernidade.
Dormia muitas vezes a ouvir-me a “fazer rádio” numa rádio local de Amarante e sentiu saudades de me ouvir quando deixei esse part-time.
Tenho pena que nunca me tenha visto a aparecer na televisão!
A minha única esperança, é que lá em cima – sim, se há céu ela estará por lá -, haja uma antena parabólica que consiga captar o sinal e me tenha visto.
Os últimos tempos da avó Alda, foram marcados pela célebre doença que afecta a memória. Mas nem aí deixou de me abraçar, de dizer o quanto gostava de mim, mesmo não conseguindo verbalizar o meu nome ou o grau de parentesco.
Não há doença alguma que ataque os sentimentos verdadeiros que estão guardados no coração! Não é verdade?
Durante vários anos, José Manuel Monteiro foi uma das vozes da saudosa Rádio Sim.
Uma Rádio que fez parte do Grupo Renascença, e que durante onze anos deu tudo o que estava ao seu alcance para a valorização dos mais velhos.
Atualmente José Manuel Monteiro é um dos repórteres do programa Domingo à Tarde na RPT