Lugares, Objetos e Tradições que fazem a história de Portugal.
Hélder Reis é um dos rostos mais acarinhados da RTP, onde trabalha há 20 anos. É formado em Teologia, pela Universidade Católica, e em Ciências da Comunicação, pela Universidade do Porto. Iniciou o seu percurso no canal público em 2000.
Atualmente colabora no programa Praça da Alegria e apresenta o Aqui Portugal.
Apaixonado pela escrita, Hélder já escreveu sete livros: três de poesia, três infantis e um de histórias de Portugal. É autor dos livros Rostos de Mar, Gestação de Chuva e Branco; dos livros infantis A Aldeia da Casa Magia, Uma Lágrima Chamada Sal e Clara, A Menina das Cores e do livro Lendas, Mitos e Ditos de Portugal.
Hélder Reis é ainda o vocalista da banda Pólen. Recentemente, também se dedica à agricultura em Mirandela, como apicultor e produtor de azeite e amêndoa.
Há mais de 20 anos a percorrer o país de lés a lés e a correr mundo como repórter e turista, Hélder Reis coleciona histórias e locais, e este livro é o reflexo desse percurso e vivências.
Nação Valente é um convite a viajar por Portugal num ano em que a maioria dos portugueses vai fazer férias cá dentro, a sair de casa, fazer um piquenique e conhecer as nossas praças, ruas, museus, monumentos e gentes.
«Eis-me com Portugal nas palavras, mais uma vez. Que nunca seja abuso, mas bom uso de um país do qual me orgulho. Nação Valente quer ser um livro de honra ao que somos nas paredes do nosso país, mas também no mundo e na alma. Este não é um
livro de exegese histórica, não o leia assim, por favor. Pegue nele como um livro sobre Portugal, com boas sugestões para conhecer melhor a nossa pátria-mãe, escrito com rigor e simplicidade. Não tenho nenhuma presunção de ensinar história, só o atrevimento
para que fique curioso, e nos perceba ainda melhor, como nobre povo e nação valente.»
Nesta viagem por Portugal, dividida em três partes Lugares; Objetos; Tradições encontramos mais de 80 pequenos textos e imagens ilustrativas, com a origem, factos e curiosidades que marcaram a nossa história:de castelos a monumentos, das
caravelas à guitarra, do hino aos santos populares, escritos com o sentimento que liga o autor a cada tradição, lugar ou objeto.
Sinopse
Este é um livro recheado de emoções. Hélder Reis leva-nos numa viagem única por Portugal.
Pelos lugares emblemáticos que marcaram a sua história, fala-nos da gente valente e heróica, dá-nos a conhecer objetos que ainda hoje nos contam uma estória empolgante e as tradições populares que nos tornam únicos. Venham daí.
Quando visita o Terreiro do Paço, em Lisboa, imagina aquela praça como palco de um
regicídio, ouvindo os gritos que a 1 de fevereiro de 1908 inundaram a cidade: «Mataram o rei no Terreiro do Paço.»
Ao pisar as pedras do Castelo de Guimarães, sabe que o berço da nossa nacionalidade já foi também um palheiro, uma pedreira e até uma prisão?
Conhece a tradição das magníficas Festas dos Tabuleiros de Tomar ou as Festas do Povo de Campo Maior, ou a origem dos assustadores Caretos de Podence?
Sabia que o astrolábio mais antigo do mundo é português ou que pode consultar o tratado que deu origem à nossa Nação, na Torre do Tombo? Chama-se Bula Manifestis Probatum.
Ou ainda que foram precisos 70 quilos de ouro por ano para erguer o Mosteiro dos Jerónimos?
Conhece o chocalho, um objeto com mais de dois mil anos e que é património da humanidade?
E já ofereceu algum lenço dos namorados, uma carta de amor escrita em bordado?
Excertos do livro
Introdução
«Confesso, gostava que este livro fosse uma honra, principalmente no nosso peito. Sou
daqueles que acredita no futuro, que se risca para a frente e que cumprem as promessas no presente; mas é preciso, sempre, uma boa base de passado. Demorei mais de um ano a escrever, passou-se muita vida. Perdi a minha mãe estava a escrever a história do azulejo, ainda lhe li, sorriu e gostou, com os olhos pequeninos, a querer aprender tudo que ouvia. Custou-me muito voltar a escrever, e a retomar a evolução do texto, parece que a vida devia ser interrompida, quando nos morre quem amamos, não é? Mas não é assim, a vida deve avançar, mais serena e pausada, mas ainda mais valente.
Pouco depois desta minha eterna ausência, somos invadidos pela pandemia do coronavírus. E, ainda em isolamento, escrevi e terminei estas palavras. Chamados a ser nação, valente, nobre e honrada. Assisti a testemunhos arrepiantes, vi rostos de esperança e de dor, e lá nos tentamos erguer, como as árvores, num mundo estranhamente novo. Quando acabo de escrever, sinto sempre que tanta coisa ficou de fora, quero sempre acrescentar mais um texto, mais um pormenor. Mas como este livro é meu e seu, deixo-lhe no final umas páginas para fazer o seu roteiro e lanço-lhe um desafio: escreva-me com sugestões suas de lugares, tradições da sua terra e objetos que ficaram na nossa história…
Quem sabe não escrevo outro volume com o que me enviarem.»
Cromeleque dos Almendres
Sou um apaixonado pelo Alentejo, até porque sou neto de alentejano. O nosso Alentejo tem tudo, e a sua história arqueológica é impressionante. O meu professor de História, um jovem padre, curioso pelo mundo e pela humanidade, ao falar do Cromeleque dos Almendres dizia-nos: «Não há igual no mundo, e quanto mais interessante porque pouco se sabe dele.» Confesso, como aluno intrigava-me o fascínio por este desconhecido, pelo mistério, hoje percebo melhor. A primeira visita de estudo foi ao Cromeleque, lembro-me da expressão do meu professor, impressionado como se fosse a primeira vez que via o lugar.
E é de impressionar: o Cromeleque dos Almendres é o maior círculo de menires da Península Ibérica, são 95 ao todo e remonta ao século VII a.C., ao período da Pedra Polida, e é um dos mais significativos da Europa. Não acredita? Então fique a saber que este Cromeleque tem mais dois mil anos que o afamado Stonehenge, no Reino Unido.
Este recinto megalítico é monumento nacional desde 2015, e justamente. Muito impactante, e não sei, há uma mística ao lá chegar. Foi um lugar de encontro social, autoridade política e religiosa. Um lugar místico, de culto, de dinâmica social, de ligação à natureza e ao pastoreio e que chega até hoje contando-nos pouco do que foi, mas impondo-se pela sua presença serena e pesada.
Curiosamente, ele esteve escondido e só em 1964 foi descoberto por Henrique Leonor de Pina enquanto fazia a carta geológica de Portugal. Um trabalhador da zona o terá avisado de umas pedras e depois de limpa a vegetação terão surgido as ditas pedras. Foi escavado por Mário Varela Gomes na década de 80 e 90 do século XX, tendo alguns menires sido restaurados.
Custódia de Belém
Como já sabem, frequentei 12 anos o seminário do Porto. Licenciei-me em Teologia e fiz grande parte dos estudos em pós-graduação teológica. Não lhe estou a dar o meu currículo, longe de mim, até porque ainda não percebi se estes 12 anos foram bênção ou demónio! Bom, mas independentemente do que foi, foram anos de observação, reflexão e estudo. Era aqui que eu queria chegar. Não pela vaidade, mas pelo que implicou este caminho.
Um dos momentos mais emocionantes nas narrativas litúrgicas era a exposição da sagrada hóstia.
Um momento em que a hóstia consagrada na eucaristia é exposta em cima do altar, perante os fiéis, num objeto chamado custódia. É emocionante, porque para quem integra esta fé vê uma materialização de Deus, tão branca e próxima. Se para vós nada disto faz sentido, convido-vos a perceber a estética que uma custódia tem, assemelha-se a um grande livro de mistérios.
Provavelmente o expoente maior das custódias é a nossa Custódia de Belém. Sugiro que a veja no impressionante Museu Nacional de Arte Antiga. Vi-a já várias vezes, e encontro sempre detalhes incríveis.
Antes da descrição da própria obra, é interessante saber que a sua autoria é quase certa de Gil Vicente, sim, esse mesmo, o dramaturgo que também era ourives. Faz sentido, a liturgia tem tanto de dramaturgia! Gil Vicente foi, também, mestre da casa da moeda de Lisboa, chamavam-no o «Trovador e mestre da balança», bela escolha para tamanha demanda.
Doces saídos dos conventos
Nunca percebi a associação dos doces ao pecado, mesmo que a gula se atravesse. Provavelmente
porque o pecado é praticado em tamanha abundância e em modos e formas que nunca deveriam ser pensados, que para mim, um doce, mesmo com gula, pode até tocar na virtude do bom gosto e fica a léguas do pecado.
Curioso é juntarmos conventos ao açúcar e ovos, e estes aos doces mais afamados de Portugal. Faz todo o sentido, vão ver que sim. Entre o século XVIII e XIX, Portugal era o maior produtor de ovos da Europa. As claras serviam para engomar as roupas das gentes ricas e também para purificar o vinho branco. Já as gemas … o que fazer com as gemas? Estas eram deitadas para o lixo ou dadas de comer aos animais. Mas a abundância do açúcar das nossas colónias deu às gemas a vida que sempre
deveriam ter tido.
A extinção das ordens religiosas em Portugal, no século XVIII, ditou um período negro na fé nacional, os conventos viviam com muita dificuldade, e muitos deles viram-se vazios. A venda dos doces conventuais garantia algum sustento. A necessidade vivia de doce.
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Um livro da Editorial Planeta Portugal