“Tratei da minha Mãe como se trata uma criança”
Lidar com a morte de um pai ou de uma mãe pode ser a experiência mais dolorosa na vida de uma pessoa. Porém, há 3 anos, no dia 26 de abril de 2017, com 80 anos, a minha mãe partiu. E desde então, ao contrário do que era expectável, não tem sido fácil lidar com a sua ausência. Aliás, é mesmo muito difícil, ou impossível, superar completamente a sua perda, mas sei que há formas de continuar a honrar a sua memória.
Muitos diziam-me: “não te sentes mais aliviado?”, mas não, não me sentia. Talvez pensassem isto porque durante 6 anos, eu cuidei da minha mãe, que acusou demência aos 74 anos. Tratei dela como se trata uma criança. Dava-lhe de comer à boca, trocava-lhe as fraldas, dava-lhe banho, vestia-a, até tratava da sua “vaidade”: pintava-lhe o cabelo pois no seu tempo lúcido, confidenciava-me que não gostava dos “brancos”. Tudo fazia para lhe dar alguma qualidade de vida. Mas não, não me sentia aliviado com a sua ausência…
Foram seis intensos anos a cuidar da minha mãe, que assim que a sua demência foi diagnosticada, passou a depender completamente de mim. A rotina de cuidar dela passou a fazer parte do meu dia-a-dia, de forma natural. Até ia partilhando imagens nossas, selfies, nas redes sociais, ora como forma de algum desabafo, ora como forma de inspiração, para que outros fizessem o mesmo pelos seus entes queridos. Tal até me levou ao programa da Fátima Lopes, na TVI, para dar o meu testemunho de filho dedicado, que não desistia.
Felizmente, neste percurso, pude contar com algumas pessoas fantásticas sempre que me tinha de ausentar ou em outras situações. Foram o meu suporte anímico e físico, pois foi sempre uma entrega tão intensa, que precisava de “bolhas de ar”, de me ausentar de vez em quando, embora sempre com o coração apertado.
Mas nunca pensei que viria a sentir tanto a sua perda, pois a mãe que eu conhecia já partira há muito. No fundo, este foi um segundo luto…
A saudade da minha querida mãe não mais deixará o meu peito, mas hoje posso dizer que estou a aprender a conviver melhor com a sua ausência. Pensando que a vida que ela levava, já há muito tempo, não fazia sentido e que, finalmente, encontrou a paz e a tranquilidade que tanto ansiava e merecia.
O luto pode chegar a um fim, mas não deixarei de pensar nela. Porque ela pode ter morrido, mas o meu amor por ela não. Porém, se a minha mãe ainda pudesse dizer-me algo, estou certo de que me diria para continuar a levar a minha vida da melhor forma possível…