“Descubra as suas Origens”
Um dos objetivos do site Retratos Contados é recordar os antepassados dos entrevistados que partilham os seus testemunhos connosco.
Como tal, foi com muita alegria, que nos recebemos o livro “Descubra as suas Origens às mãos.
Muito obrigado Esfera dos Livros.
Procurar as nossas origens e descobrir quem foram ao certo os nossos antepassados é uma epopeia fascinante.
Porém, quantas vezes recuar no tempo parece ser impossível, porque a informação se perdeu ou tornou-se incerta na memória dos nossos mais velhos? Quantas vezes desistimos, por não sabermos quais os pontos de partida, por esbarrarmos em documentos que nos parecem indecifráveis?
Não se trata de uma tarefa impossível: a nossa história familiar está simplesmente escondida.
Frequentemente, as respostas surgem nos lugares mais inesperados e em arquivos que nunca nos lembraríamos de consultar.
É por tudo isto que, conduzindo-nos pelas veredas quase labirínticas da Genealogia, o livro “Descubra As Suas Origens” vem responder às questões fundamentais de quem quer embarcar nesta aventura surpreendente:
Onde e como pesquisar o rasto dos antepassados?
Como interpretar os dados recolhidos?
Como organizá-los numa árvore genealógica, reconstituindo a saga da nossa família ao longo de várias gerações?
Os autores, Francisco Queiroz e Cristina Moscatel, historiadores especialistas em Genealogia e Ciências Documentais, revelam também inúmeras dicas, facilitando a conclusão bem-sucedida desta missão, tão importante para compreendermos melhor aquilo que efectivamente somos.
Em breve, mais novidades sobre este livro para descobrir aqui.
Retratos Contados – Cada vez é mais comum, a curiosidade em descobrir coisas sobre os nossos antepassados e as nossas origens?
Francisco Queiroz – Sim, penso que a própria sociedade em geral tem essa percepção. Os antepassados deixaram de ser tema de conversa apenas de círculos elitistas.
É certo que, em muitas famílias, só uma ou duas pessoas se interessam activamente por pesquisar as raízes. Mas, se considerarmos que o interesse é cada vez maior, e que se nota muito nos emigrantes de segunda e terceira geração, estamos a falar numa tendência crescente e apreciável.
O modo como a Globalização nos parece tornar cada vez mais insignificantes e nos faz questionar sobre a quem pertencemos, porque somos assim, como nos podemos individualizar, tem grande influência sobre esta tendência de querer saber mais sobre os antepassados. O facto de quase todos os registos paroquiais existentes em arquivos portugueses poderem já ser acedidos pela Internet dá a possibilidade de pesquisa a qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, desde que entenda o português.
R.C. – No passado, eram mais as elites que procuravam detalhes sobre a sua ascendência. Hoje em dia essa curiosidade é muito mais comum.
Fale-nos disso.
F.Q. – Além do que referimos em resposta à questão anterior, há que ter em conta que, no passado, a Genealogia era sobretudo um instrumento de
afirmação social e uma forma de comprovar privilégios ou o direito à posse de determinados bens. Quem não tivesse bens nem privilégios não precisava da Genealogia para nada.
No mundo rural, que era predominante no país, salvo raríssimas excepções, as pessoas viviam modestamente e em comunidades quase endogâmicas, onde todos se conheciam e havia muitos parentescos mais ou menos distantes.
Para quê a Genealogia, nesse contexto e para essas pessoas do povo?
Apenas aqueles que tinham muitos bens e/ou foros de fidalguia tinham vantagem em usar a Genealogia. Hoje em dia, a Genealogia não é tanto um instrumento, mas mais uma busca de conhecimento que nos preenche, que nos explica.
Daí o manual agora publicado ser também de História da Família: uma árvore genealógica já é algo redutor para muita gente, que quer é interpretar os dados históricos, perceber os porquês. A crescente adesão aos testes de ADN para fins meramente de curiosidade sobre as origens também se enquadra nesta tendência.
R.C. – Essa descoberta é uma trabalho árduo? O que impossibilita o sucesso dessa descoberta?
F.Q. – A tarefa é demorada. Se considerarmos que, ao recuarmos uma geração, o número de antepassados tende a duplicar, e que cada um deles teve os seus pais, avós, bisavós, etc., poderemos estar a falar de uma tarefa de anos, sendo feita nos tempos livres de quem tem uma profissão.
Naturalmente, as pessoas escolhem começar pelos ramos familiares em que já existe algum trabalho feito por parentes ou então sobre os quais têm mais curiosidade. Podemos até encarar este tipo de trabalho como um “hobbie”.
Por vezes, relativamente a certos antepassados, parece que não conseguimos recuar mais, por faltarem assentos paroquiais, por não se saber os nomes dos pais e avós, ou por a sua naturalidade ser desconhecida.
Quando a pesquisa nos documentos mais óbvios não dá em nada, pode ser extenuante tentar encontrar o fio da meada. Porém, há que ser persistente e saber contornar os obstáculos. O manual serve também para isso: não só para indicar fontes alternativas – e são muitas, algumas das quais nem mesmo vários genealogistas com alguma experiência se lembram de recorrer a elas – mas também para alertar para a grande quantidade de dados incorrectos ou propositadamente errados que se encontram na bibliografia e, sobretudo, na Internet.
Este livro também ajuda as pessoas a não perderem tempo seguindo por caminhos que não irão dar em nada.
R.C. – De que forma o livro ” Descubra as suas origens” poderá ser facilitador para essa missão?
F.Q. – O livro foi elaborado com base num trabalho prévio e demorado de análise das perguntas mais frequentes sobre a pesquisa genealógica, existentes em fóruns e grupos na Internet.
Foram analisadas as respostas e, dessas respostas, tidos em consideração os erros e mistificações mais vezes reproduzidos. O modo como o livro está estruturado, procura responder às dificuldades mais comuns que as pessoas encontram ao longo da pesquisa, nas suas várias fases:
Onde e como pesquisar, como interpretar, como organizar os dados.
Foi um livro feito com base nesta premissa:
Escrever sobre o que realmente as pessoas precisam de saber.
O livro não foi um manuscrito feito noutro contexto e proposto depois para publicação: foi uma encomenda da editora, com o propósito concreto de poder ser um manual; um livro para sublinhar, anotar e regressar a ele sempre que necessário.
R.C. – A origem dos nosso apelidos, poderá estar relacionada com o local onde os nossos antepassados viviam, ou com a profissões que desempenhavam?
FQ. – Sem dúvida. Se considerarmos que, recuando seis ou sete gerações, contabilizaremos já muitas dezenas de antepassados e vários deles provêm de famílias que usaram apelidos diferentes, pode-se deduzir que a origem de alguns apelidos é determinável em alguns casos, mas, nocaso de outros, nem por isso.
Quanto mais antiga for a origem, mais difícil é perceber quando e por que razão apareceu.
R.C. – Existem mitos relacionados com os nosso apelidos? Quais?
F.Q. – Os mais comuns são o de que as eventuais armas que encontramos na Internet ligadas a um apelido são também as da nossa família, por termos antepassados que usaram o mesmo apelido (quando as armas foram atribuídas a pessoas concretas e, durante a Monarquia, as mesmas só puderam ser usadas pelos descendentes, ainda assim com uma diferença pessoal, e com a eventual adição de outras armas, dando origem a brasões, por exemplo, esquartelados, ou seja, com quatro campos diferentes) e o de que certos apelidos relacionados com árvores, por exemplo, são reminiscências de um judaísmo que se pretendia encobrir (quando uma coisa não tem a ver necessariamente com a outra).
Relativamente aos apelidos, há vários outros mitos. Um outro, que hoje em dia ainda se nota em conversa com algumas pessoas, é o de que todos os do mesmo apelido são, de algum modo, parentes.
R.C. – Se quisermos começar a descobrir coisas relacionadas com os nosso
antepassados, que métodos recomendam?
F.Q. – O método mais recomendável é mesmo ler o livro antes de começar e, a meio da pesquisa, reler as partes que eventualmente foram sublinhadas.
Este manual aborda a questão dos métodos em detalhe e sob o princípio de que tudo, ou quase tudo, pode servir para conhecermos melhor a nossa história
familiar: desde os objectos que os nossos antepassados usaram – reveladores de gosto, de mais ou menos posses – até ao tipo de jazigo que mandaram fazer, passando pela escolha dos nomes próprios, pela maneira de escrever, etc..
A ideia de que os registos paroquiais são as fontes principais para uma genealogia há muito que foi colocada em causa.
Em certos casos, quase podemos prescindir dessas fontes, embora o ideal seja cruzar dados, pois algumas das fontes não são inteiramente fiáveis.
No manual também explicámos o que é que não devemos deixar de anotar, mesmo quando nos pareça pouco importante.
Explicamos ainda quais os pontos de partida e em que situações devemos pedir ajuda, como e a quem.
R.C. – Quais os locais que devemos procurar para dar inicio à nossa descoberta?
F.Q. – Isso depende do que conseguirmos reunir em casa. Se soubermos as naturalidades e datas de nascimento dos nossos avós, ou até bisavós – e uma maneira simples de conseguir muitas datas de uma só vez é nos próprios jazigos de família e/ou nos registos do cemitério – e se estas datas forem anteriores a 1911, podemos começar a pesquisar a partir de casa nos registos paroquiais.
O manual explica como isso pode ser feito e por onde iniciar. Sendo as datas mais antigas que temos já posteriores a 1911, talvez precisemos primeiro de pedir elementos às conservatórias de registo civil.
R.C. – Hoje em dia, o mais comum é termos um apelido materno e outro paterno. Mas no passado era bastante diferente. Muitas famílias de elite, continuam a usar vários apelidos. Falem-nos disso.
F.Q. – Esse é um dos pontos focados no livro. Esclarecemos que a noção de apelido, em outros tempos, não é como hoje. Basta ver que o nosso primeiro rei, Afonso Henriques, não tinha apelido. Henriques era o patronímico de Henrique, ou seja, significa que era filho de um Henrique.
Muitos patronímicos fixaram-se depois como apelidos e há hoje muitos Henriques filhos de um João, de um António, de um Manuel.
Porém, em certo momento da sua história familiar é altamente provável
que um antepassado tenha sido mesmo Henrique.
Quanto ao uso de vários apelidos por parte de famílias de fidalgos, ao contrário do que as pessoas pensam, isso foi, não só muitas vezes resultado da invenção de vários genealogistas de outros tempos, que queriam assim demonstrar de quais famílias com pergaminhos descendiam, mas também consequência de obrigações vinculares; ou seja, vários fidalgos tinham de usar certos apelidos para herdar propriedades vinculadas por antepassados que os haviam usado e que pretenderam, ao instituir os ditos vínculos, ver os apelidos perdurar nos sucessores.
Nesta ordem de ideias, percebe-se que o povo, há duzentos anos atrás por exemplo, não precisava de apelidos para nada: não tinha bens imóveis vinculados, não pertencia a uma linhagem nobre que pudesse ser realçada.
O povo em geral não tinha grande mobilidade e, se fosse analfabeto, era simplesmente conhecido pelos nomes próprios e por alcunhas, algumas das quais depois fixaram-se também como apelidos.
No livro apresentamos alguns casos curiosos de como isso aconteceu. Também explicamos no livro como os nomes próprios podiam ser alterados ao longo da vida. Ao contrário do que hoje acontece, quando alguém nascia era-lhe atribuído geralmente um nome próprio. O modo como essa pessoa viria mais tarde a assinar (se é que sabia ler e escrever), se usava um segundo nome próprio, quantos apelidos usava, isso dependia de muitos factores e podia haver mudanças ao longo da vida, nesse aspecto.
“Estamos a procurar um parceiro para traduzir o manual ao inglês, de modo a permitir que mais pessoas entrem nesta aventura fascinante e quase viciante que é resgatar aos documentos a história da nossa família”.
Queríamos mesmo que o livro “Descubra as suas Origens” fosse traduzido para inglês. Assim, poderia ficar o manual mais acessível a luso-descendentes nos EUA e Canadá – que são muitos os que pouco falam de português mas andam ávidos para conhecer as suas raízes.
E assim, faríamos a nossa parte para que as pessoas valorizem mais os que nos precederam e viveram para que nós pudéssemos existir.