“Coração”

“Diário de uma avó e de um neto”

sábado, 22 de junho 2021

Querida avó,

Maio já vai a meio e ainda não falámos de este mês ser conhecido como o “Mês do Coração”. Ao longo destes dias costumam realizar-se um conjunto de actividades na tentativa de alertar a população para a problemática das doenças cardiovasculares, sendo que todos os anos é dedicado a um (ou mais de um) factor de risco, em particular.

É impossível falar de coração sem falarmos do Prof. Fernando Pádua, conhecido sobretudo por ser o Dr. Coração, já para não falar dos seus laços, a sua imagem de marca.

Sabes que já estive com o Prof. Fernando Pádua várias vezes. É sempre tão enriquecedor o que tem para partilhar. Se hoje se vivem muitos mais anos, é graças a pessoas como ele, que insistem na prevenção, e não na cura depois de surgirem os problemas.

Lembro-me de ele partilhar comigo os cuidados que devemos ter com a alimentação.

Que fazer Exercício Físico é fundamental para sermos saudáveis. Que os adultos devem abandonar o terrível hábito do tabaco. Que devemos reduzir o sal o mais possível.

Que todos devemos ir ao médico pelo menos uma vez por ano, para nos certificarmos de que está tudo bem.

 Que devemos ter menos stress e tantas outras dicas. Pratico todas, não sei se é por isso que me mantenho “jovem”.

Por falar em coração, finalmente comecei a ler o livro “Coração” de Edmundo D’ Amicis, que tanto me recomendaste. O diário onde um jovem relata a sua vida na escola e na família, com os colegas, os amigos e os professores.

Incrível como, passados tantos anos, este livro continua a ser tão lido no mundo inteiro. Obrigado pela recomendação.

Ainda sobre as dicas do Prof. Pádua, existe uma em particular que achei imensa graça “Os elevadores não servem para nada. Só se for para descer. Para subir devemos sempre ir pelas escadas!”.

Em breve lá irás tu para a pátria do teu Coração. Onde fazes muito mais exercício físico e praticas uma vida mais saudável.

Cuida do teu coração.

Bjs

Aproveita e espreita o Testemunho do Professor que está aqui: Retratos Contados do Fernando Pádua.

Querido neto,

É terrível falar de coração na altura em que me cai no colo a notícia da morte do Coronel Dinis de Almeida, que entrou nos nossos corações desde o dia 11 de Março de 1975, em que acabou com um possível golpe de Estado.

Possivelmente só saberás que foi um militar de Abril—e já não é mau…—mas foi muito mais que isso. Ele comandava o R.A.L.I.S. que, de repente, foi bombardeado e invadido pelos paraquedistas a mando do Spínola—que lhe entregaram um documento para ele ler e se render.

Estou a vê-lo na televisão, muito jovem, a ler o documento sem as mãos lhe tremerem sequer, e a falar com os revoltosos , como se de um banal acontecimento se tratasse. Os revoltosos era uns broncos e nem sabiam explicar muito bem o que estavam ali a fazer. “Estamos aqui em nome de um grupo de pessoas que não estão satisfeitas com o rumo que as coisas estão a tomar!”—parece que ainda os estou a ouvir…–e não passavam disto. Ao fim de algum tempo, sempre muito sereno, ele conseguiu dar a volta àquilo tudo, explicar-lhes que eles não tinham razão nenhuma—até que se abraçaram todos e se retiraram,  e o golpe ficou por ali.  Graças ao Dinis de Almeida.

Mas não falemos mais disto.

Fiquei muito contente por saber que já tinhas lido o “Coração”. É espantoso como um livro escrito em finais do século 19 consegue ainda cativar as crianças de hoje.

Lembro-me de o ter lido aos meus filhos, eram eles ainda pequeninos, e estávamos a passar férias na Costa Nova. À noite, antes de adormecerem, lá lhes lia um capítulo. Eles choravam tanto que eu até pensei em não ler mais. Mas eles é que insistiam! E fizeram-me ler o livro até ao fim! E nunca tiveram pesadelos…

Era um livro que se passava todo num país que eles não conheciam, e era uma história muito patriótica, porque tinha sido escrita no tempo da reunificação de Itália. Eles adoravam o Garibaldi como se fosse um herói da nossa história.

Já o dei à minha neta mais nova, que também gostou muito. Os irmãos mais velhos de certeza que nunca leram: viveram mais tempo em Inglaterra do que ela, e as escolas por lá nem deviam saber quem era o senhor. Vou esperar que cheguem os bisnetos.

Quanto ao Prof. Fernando de Pádua, já o entrevistei algumas vezes—mas o cardiologista da minha família era o Dr. Alfredo Franco .E se me lembro dele é porque um dia a minha mãe foi consultá-lo e levou o meu filho, muito pequenino. Um primo nosso tinha-lhe dado nos anos um carneiro, que ele amava de paixão (e que morreu de velhice, claro…) a quem ele, sabe-se lá porquê, dera o nome de Alfredo. Então quando ouviu a avó cumprimentar o dr. Alfredo Franco disse logo: “olha, tens nome de carneiro!” Foi a partir daí que a minha mãe passou a ir sempre sozinha ao médico. E é isto. Vou ver o que a RTP vai dar sobre o Dinis de Almeida

Bjs

Outros capítulos aqui: “Diário de uma avó e de um neto.”