CONHEÇA OS REBELO PIRES DE CARVALHO

Na Pousada Cidadela de Cascais, os Retratos Contados sentaram-se com os Rebelo Pires de Carvalho para falar sobre o passado, o presente e o futuro de uma das famílias mais queridas de Portugal.

Depois das fotografias feitas por Tracy Richardson (com produção da revista CARAS), Nélson Mateus e Adelaide de Sousa conversaram com Paula, João, Henrique e Ruy de Carvalho. O resultado foi uma conversa alegre, descontraída, mas nem por isso menos importante…

 

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Ruy, fale-nos da sua família…

Ruy de Carvalho:  Eu sou Ruy Alberto Rebelo Pires de Carvalho, Pires de Carvalho é da parte do pai, Rebelo é da parte da mãe, Calado Rebelo. Tenho também uma bisavó que era de origem escocesa, de nome Stuart…

E o que é que nos pode contar sobre os seus avós?

Ruy: O meu avô creio que dirigia as finanças em Vila Real, Trás os Montes. Eu sou de uma família transmontana, e tenho lá uma rua agora com o meu nome e é uma coisa que me honra muito. O tio do meu pai foi primeiro fundador de um jornal republicano no tempo da monarquia, chamava-se “O Trás os Montes”…

O seu tio era republicano, então?

Ruy:  Sim, e o meu pai, a família do meu avô, e era tudo gente daquela zona ali. A minha avó Cristina foi casada com um senhor chamado Rebelo, que foi dono duma propriedade enorme que houve em Angola e que depois se transformou num sítio chamado «Bom Jesus do Kwanza». Uma coisa engraçada: esse meu avô Rebelo, que está agora no jazigo número 11 do cemitério de Luanda, recebeu o príncipe Luís Filipe quando ele fez uma viagem a Angola e mandou fazer um barco com rodas para ele poder subir o rio. Tinha uma casa perto da Senhora da Muxima, e esse meu avô como calculam era rico… Era um homem rico, mas depois já não nos calhou nada, porque quando nós fomos à procura do que restava já não valia a pena procurar!

E da parte da sua mãe, o que nos conta?

Ruy: A minha mãe era pianista (filha do meu avô Rebelo) e não quis ir para África porque o pai não mandou ir a mãe, só a filha, e ela disse que sem a mãe não ia! Portanto o meu avô ficou lá sozinho e a minha avó foi lá morrer, passados muitos anos em 1929 ou 30. Faleceu nos “Muxazes”, a 16 km de Vila Luso. Está enterrada a grande profundidade por causa das feras – agora já não há tantas porque comeram-nas! A minha mãe era pianista, foi aluna de um grande mestre de piano chamado Vianna da Mota. Ele disse-lhe uma coisa engraçada: «se a menina casar não será uma grande pianista».

E porque é que ele disse isso?

Ruy: Porque iria estar dividida entre o piano e a família… Um pianista tem de correr mundo, ele achava que ela podia correr mundo, que tinha esse potencial. A minha mãe, se fosse viva, teria cento e tal anos, já tinha 43 anos quando eu nasci.

 

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A sua mãe então era pianista e o seu pai era militar?

Ruy: O meu pai era oficial do exército, era! Fez parte da guarda real deste senhor que temos atrás de nós (fotografia na Pousada Cidadela de Cascais), o rei D. Carlos. Pertencia à comitiva dele, e fez serviço aqui na Cidadela. E de vez em quando estava preso porque era monárquico.

E foi várias vezes preso, não foi?

Ruy: Exato, 37 vezes, antigamente os homens prendiam-se uns aos outros mesmo quando eram democratas.

E que recordações é que tanto o João como a Paula, têm destes avós que o vosso pai estava agora a recordar?

João: Recordações, muitas… O pai do meu pai, o meu avô João de quem eu herdei o nome, era um homenzarrão muito grande, tinha mais de 1 metro e 90. Não herdei o tamanho, só o bigode!  O meu avô era uma pessoa extraordinária. Sei que ele era um pouco doido quando era jovem e não só, mas teve sempre aquela figura do grande avô.

A minha avó era um doce, as minhas duas avós. O avô materno não cheguei a conhecer bem, eu tinha  um ano quando ele morreu. As minhas duas avós, tanto a paterna como a materna, eram artistas. A minha avó paterna era uma pianista e concertista extraordinária. A minha outra avó não se dedicou tão seriamente às artes, mas era uma pintora a carvão espantosa, tenho várias obras feitas por ela. Antigamente as senhoras procuravam outras coisas, não eram só os bordados. Ela era uma menina de família madeirense e portanto tinha polivalências, bordava maravilhosamente, até a ouro sabia bordar…

Então em termos de geografia de Portugal temos Trás os Montes, Madeira…

João: Madeira da parte da minha mãe, e depois Lisboa. Eu lembro-me de passear com o meu avô, é uma imagem que guardo, ele sempre muito grande…

Ruy: Ele tem a espada do avô em casa!

Tem? A espada?

João:  A espada, as medalhas e os galões que eram do meu avô, sou eu que tenho e passam de geração em geração. Creio que essas são as coisas que nós temos de ir conservando, para sabermos que existe tradição nas nossas famílias. É uma base muito importante para a nossa vida, e se nós nos esquecemos disso, é um descalabro.

 

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E da sua parte, Paula…?

Paula: Uma das minhas tarefas agora é unir, juntar a família, é o que eu tenho feito nos últimos tempos. Mas relativamente aos avós, o João esqueceu-se de falar na bisavó. Nós ainda conhecemos a avó da minha mãe, morreu quando eu tinha uns 9 ou 10 anos. Tinha quatro filhos, todos tinham cabelos brancos e ela não tinha mais de sete cabelos brancos quando morreu. As minhas avós, conheci-as muito bem. Quando a mãe da minha mãe morreu eu já era adulta, só não era ainda casada nem tinha filhos, mas já era uma mulher. Eram extraordinárias as duas: lembro-me vagamente de estar a brincar ao pé da minha bisavó, mas ela depois entrou em coma… O meu avô morreu tinha eu 3 anos, lembro-me de estar sentada na cama com ele a fazer casinhas com as cartas e com os maços de tabaco vazios. Ele fazia coleção porque nunca fumava o mesmo cigarro, eram sempre de uma marca diferente. A última memória que tenho do meu avô é do hospital militar na Estrela: lembro-me de andar a correr ali pelo hospital e depois lembro-me de ele ter desaparecido. Disseram-me que ele tinha partido, mas eu não percebi na altura… Tenho uma grande saudade desse avô. Os outros conheci e dávamo-nos muito bem. Sou parecida com a mãe do meu pai, que era neta de escoceses…

De onde vem o nome Stuart…?

Paula: A tal Stuart. A minha avó era muito baixinha como eu, mas tinha o cabelo muito preto que eu não tenho. Fomos buscar quase tudo ao lado da minha avó. Ninguém ficou grande…

Ruy: Mas ficaste com os olhos bonitos…

Paula: Ninguém ficou alto como o meu avô.

Henrique: Fiquei eu, enorme!(risos)

 

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O Henrique não se lembra dos bisavós…

Ruy: Mas da avó Rute, lembra-se!

Paula: E ele ainda tem uma avó do lado paterno.

Henrique: Tenho o meu avô do lado materno e uma avó do lado paterno.

Paula: Mas conheceu ainda os bisavós.

Henrique: Conheci os bisavós do lado do meu pai.

Paula: Eras muito pequenino…

Tem algumas recordações ou não?

Henrique: Não!

Paula: Mas dos avós sim, do avô Armando que era oficial da Marinha…aliás tem também a espada desse avô, creio.

 

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