«APAGO OS COMENTÁRIOS MALDOSOS DA MINHA MEMÓRIA!»

Retomamos a conversa com a autora do blog Cocó na Fralda que, depois de nos falar dos avós que teve, conta como são os seus pais enquanto avós dos 4 meninos que compõem esta querida família de 6.

Divertimo-nos imenso com todos eles no Jardim Zoológico, numa tarde passada em boa companhia…veja a última parte da conversa com Sónia Morais Santos.

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Conte-nos agora qual o papel dos avós na vida dos seus filhos?

Sónia Morais Santos: É muito importante e tenho pena que não seja mais ainda. A minha mãe não é muito aquela avózinha amorosa, que faz bolos e deixa as criancinhas fazerem tudo o que lhes dá na bolha. Nem pensar! Sempre foi general e continua a ser, mesmo com os netos. Às vezes tenho pena porque continua a querer educar, quando acho que esse é o nosso papel. Não me importava que ela estragasse… Às vezes eles só precisam de mais mimo. A minha sogra já é um bocadinho mais essa avó, que os entope com doces e guloseimas. Mas não está assim tanto com eles, só uma vez por semana. O meu sogro é o resmungão de serviço, que lhes incutiu o amor ao Sporting (um amor cheio de amarguras), e que lhe ensina charadas que os fazem pensar. O meu pai e a minha boadrasta estão menos vezes com eles mas ele é tipicamente o avô maluco e ela a “avó” amorosa e com paciência. Mas sendo diferentes, todos educam!

São avós que a ajudam? Os seus filhos gostam de estar com os avós? São avós que brincam com os netos? 

Sónia Morais Santos: Ajudam. A minha mãe leva-os à escola, às vezes, vai buscar, fica com eles para irmos de férias. Se não fossem os avós a nossa vida era muito mais um sacerdócio aos filhos, o que não é positivo.

Vê algumas características que os seus filhos tenham herdado dos avós?

Sónia Morais Santos: O meu filho Manel parece-se muitas vezes com o avô paterno, na resmunguice. O Martim parece-se com o avô materno na maluquice.

Qual o papel dos seus filhos na vida dos avós?

Sónia Morais Santos: Acho que os rejuvenescem, que lhes dão alegria.

Cresceu sem a figura parental. Hoje quando olha para a linda família que construiu, o que é que sente?  

Sónia Morais Santos: Quer dizer, eu cresci com a figura parental… só que de vez em quando falhava um bocadito! Era a minha mãe que cuidava de tudo e que garantia que nada me faltava. O que sinto é a enorme felicidade de ter dado um pai extraordinário aos meus filhos. Um pai que mima, que dá colo, abraços, banhos, jantares, um pai que impõe limites, que diz não, mas que também diz sim. Um pai presente, sempre presente, que até costuma dizer que, se pudesse, ficava em casa só para os filhos como as senhoras antigamente. Isso é que me dá uma grande alegria: saber que os meus filhos têm ali um pai como deve ser, todos os dias das suas vidas.

O blogue “Cocó na Fralda” nasceu inspirado no quotidiano dos seus filhos. Ao fim de 7 anos, ainda hoje são os seus filhos que servem de inspiração para o blogue?

Sónia Morais Santos: Claro! As coisas que dizem, que fazem, as alegrias que me dão mas também as desilusões ou as frustrações, os disparates que fazem… todo o processo de crescimento é uma inspiração. E acho que ajuda outros pais, porque se identificam com aquilo que eu passo e com o que sinto.

Como se imagina no papel de avó (daqui a muitos anos)?

Sónia Morais Santos: Queria ser a avó querida, a avó divertida, mexida, atenta, conselheira. A avó “práfrentex” que dá mimo e dicas e a quem eles recorrem, mesmo sem os pais saberem. Adorava ser essa avó.

O seu blogue tem cerca de 20 mil visitas diárias, a sua pagina no Facebook cerca de 40.000 seguidores. Como se sente sabendo que existe um tão grande número de pessoas a ler o que escreve? 

Sónia Morais Santos: Não sinto assim um baque muito grande porque, como sou jornalista, estou habituada desde há muitos anos (quase 20, que medo) a escrever para muita gente ler. De maneira que, honestamente, não penso nisso.

Existem algumas pessoas que muitas vezes acabam por escrever comentários pouco simpáticos … Como lida com essas pessoas?  

Sónia Morais Santos: No início custava-me. Porque as pessoas diziam coisas sobre mim que não correspondiam à verdade. Perturbava-me imenso ler certas coisas. depois ganhei imunidade. Mesmo. Raramente me lembro do que comentam os maldosos. Apago-os do blogue e da minha memória. Ter uma memória selectiva dá imenso jeito.

Ao fim destes anos já tem ideia, que uma certa publicação vai dar origem a certo tipo de comentários. Isso faz com que reflicta sobre o que escreve? Dá-lhe gozo escrever “sem filtro” e saber que essas publicações vão dar origem a certos comentários?

Sónia Morais Santos: Não escrevo sem filtro. Já escrevi mas hoje sou mais consciente. Vivemos um tempo em que parece haver sede de destruir pessoas nas redes sociais. Basta alguém dizer algo de errado ou que, fora do contexto, pareça errado, para virem aos milhares destruir a pessoa. Passa-se de bestial a besta em fracções de segundo. Parece que está tudo à espera que se escorregue para atacar. Tento proteger-me desses cães danados. Penso bem no que vou escrever, não só para não ferir susceptibilidades, como para não acabar estraçalhada pela matilha em fúria.

O nosso objectivo é o de falar das ligações entre avós e netos. A importância dos papel dos avós na vida dos netos e vice-versa.  O que acha da ideia?

Sónia Morais Santos: Acho extraordinária. A relação entre avós e netos devia ser mais cultivada, mais acarinhada por todos. Todos têm a beneficiar. Os mais velhos têm tanto a ensinar, os mais novos têm tanto para dar… dessa junção só podem nascer coisas boas. Acho muito bonito o vosso projecto!

Através da nossa página queremos ainda falar de envelhecimento activo, do abandono dos idosos, dar a conhecer actividades para serem feitas pelos mais velhos, ou para os mais netos fazerem com os netos … Quando olha para o nosso país, como vê a população mais velha?

Sónia Morais Santos: Acho que há muita solidão. Muitos filhos a fazerem a sua vida, esquecendo os pais, velhos, como se fossem cartas fora do baralho. Isso perturba-me muito. É verdade que a nossa vida é feita a alta velocidade, temos sempre pressa, os dias correm, mas não podemos esquecer os mais velhos, aqueles que nos criaram, que deram tudo para fazer de nós quem somos. A solidão dos velhos magoa-me. Deve ser muito triste perceber que se chegou a uma fase da vida em que ninguém quer saber de nós. Espero que, com 4 filhos, haja pelo menos um que nos dê atenção! 🙂

No ano em que o seu blogue faz 7 anos, mudou-se para “uma nova casa”. O que a fez mudar o seu blogue para o Sapo?

Sónia Morais Santos: Foi um namoro longo. Sou uma pessoa de relações estáveis, duradouras, e para mudar é porque tem mesmo de haver razões fortes. Não falarei sobre as coisas más que me fizeram mudar, mas das boas que espero ter com a mudança. Acredito que faremos uma boa parceria!