Luís Newton – Presidente da Freguesia da Estrela em Lisboa
A valorização dos mais sábios
A Junta de Freguesia de Estrela (JFE) assume como uma das suas principais missões contribuir para o envelhecimento ativo e saudável da população mais velha da sua Comunidade, apostando na dinamização de um conjunto integrado de programas, projetos, ações e serviços, de maneira a acompanhar esta etapa de vida e responder às necessidades emergentes da mesma.
Estas são respostas diversificadas, que atuam em diversos eixos do plano físico e mental, como o bem-estar e atividade física, literacia, âmbito cultural, e intervenção social, sempre com vista a promover a saúde da nossa população mais velha e, de um modo geral, proporcionar condições que potenciem uma melhor qualidade de vida.
Na área do bem-estar e atividade física destacamos o papel da Academia Estrela, promotora de aulas diversificadas e regulares para idades mais avançadas, como é o caso da Ginástica, Hidroginástica e Pilates. Para além do incentivo à prática regular de exercício físico, estas aulas consistem também num meio de combater o isolamento em que alguns seniores vivem, promovendo a interação e coesão social. A nível da saúde contamos com consultas de medicina natural / acupuntura, onde para além dos tratamentos são feitas recomendações alimentares genéricas por um médico da especialidade, e contamos também com o projeto “Diabetes em movimento”, que consiste em sessões de exercício físico direcionadas para pessoas com Diabetes Tipo 2, acompanhadas por sessões de literacia para a saúde.
Para a promoção da literacia, a JFE apresenta como estratégias a dinamização de aulas de inglês e informática, assim como a dinamização dos projetos “Poesia como arte de bem dizer” e “Ler a vida”. O primeiro carateriza-se por promover o intercâmbio de valores linguísticos e proporcionar convívio e prazer no ato de comunicação, através de exercícios respiratórios, de dicção, de treino de timbre, de tonalidade, entre outros. O segundo decorre na Biblioteca João Baptista Coelho, iniciando-se com a leitura de poemas, contos, histórias ou peças, seguida da exploração e reflexão das temáticas.
No âmbito cultural, são dinamizados passeios, viagens e atividades regulares no âmbito do programa À Descoberta. Este programa tem diversas edições, nomeadamente: À Descoberta da Estrela, À Descoberta de Lisboa, À Descoberta de Portugal, existindo também a edição À Descoberta do Mundo, onde os nossos seniores tiveram oportunidade de ir a Roma e à Cidade do Vaticano. Este programa assume como escopo a valorização do espólio cultural da freguesia (dotado de importância tanto material como imaterial), assim como levá-los a conhecer ou revisitar os mais carismáticos locais nosso País, aliando o lazer ao conhecimento do património histórico e cultural. Além do referido, este programa também se traduz numa fonte de interação entre os seniores da Freguesia, sendo um aliado no combate ao isolamento e na promoção de uma rede social ativa.
Já no âmbito da intervenção social, destacamos alguns projetos que constituem respostas únicas, inovadoras, e que permitem uma maior proximidade com as diversas franjas da população sénior.
O GeoSenior consiste na implementação de um novo modelo de intervenção e sinalização de seniores em situação de risco e vulnerabilidade, através da criação de uma plataforma digital / app de sinalização. Esta não objetiva apenas a referenciação, podendo ser considerada como uma ferramenta de articulação interinstitucional, uma vez que todas as instituições que intervêm no âmbito do envelhecimento estão integradas na mesma e têm a possibilidade de acompanhar todo o processo, sabendo em que fase se encontra. Com o presente projeto espera-se que a Comunidade se envolva e se responsabilize pela sinalização ao reportar às entidades competentes situações de vulnerabilidade, prevendo-se que 100% das situações sinalizadas recebam o acompanhamento adequado às reais necessidades dos seniores.
O projeto VisitARTE consiste numa resposta social promotora de inclusão social através da Arte, com o objetivo de combater o isolamento e aumentar a qualidade de vida da população sénior mais fragilizada. São realizadas visitas no domicílio, intervindo com recurso ao teatro, música, leitura de histórias e poesia, comemoração dos aniversários, memórias, estimulação física, acompanhamentos terapêuticos e artes manuais. Dentro destas atividades estão incluídas as atividades no exterior / saídas “Dar um Giro”, que possibilitam uma maior proximidade com as instituições locais, o convívio com outros seniores e o reforço das relações interpessoais na comunidade. Em 2019, perante o aumento de procura desta resposta, identificou-se a necessidade de definir um novo modelo de intervenção, tendo sido dado início à fase de implementação de um projeto piloto que permita a JFE passe a assumir um papel de coordenação/consultoria na distribuição e avaliação dos casos, enquanto as instituições locais que intervêm com a população mais velha se responsabilizam pelo acompanhamento diário das situações, à semelhança do apoio domiciliário que é prestado aos utentes.
Sensível ao aumento de situações de demência em seniores da Freguesia, a JFE procurou dar resposta, no âmbito preventivo, através do projeto de estimulação cognitiva Onde anda a minha cabeça? Este tem como objetivo prevenir e minimizar défices cognitivos inerentes ao processo de envelhecimento, através da realização de exercícios práticos e da reflexão sobre estratégias para lidar com o próprio processo.
Outra temática à qual a JFE não é indiferente prende-se com a promoção das relações intergeracionais, através do projeto Dar vida aos anos. Este pretende juntar seniores e crianças através de várias atividades, com o objetivo de prevenir o isolamento, promover a inclusão social, e o bem-estar psicológico dos mais velhos, assim como desenvolver junto das crianças atitudes pró-sociais em relação aos seniores, potenciar a aprendizagem de competências sociais e prevenir a criação de estereótipos. O projeto pretende ainda ter impacto junto das famílias, possibilitando a transmissão intergeracional de aprendizagens.
Por fim, de referir também o projeto Cantar faz bem, que contribui através da música para o bem-estar físico e emocional do Grupo de Cantares Tradicionais da Estrela e o Grupo Coral da Estrela, e também o trabalho do Grupo de Teatro Sénior, em que os ensaios proporcionam a expressão emocional, a criatividade, a autonomia e a autoestima, assim como a prevenção do isolamento/solidão.
O “novo normal”
Em março do presente ano, a pandemia de COVID-19 trouxe novos desafios (individuais e enquanto Comunidade), impondo a suspensão destas respostas. No entanto, na Estrela quisemos ir mais longe. Numa altura em que foi necessário estarmos fisicamente apartados, quisemos manter-nos sempre próximos da Comunidade que servimos.
Neste sentido, ainda no início de março (antes de ser decretado o Estado de Emergência), considerámos imprescindível elaborar uma resposta de 1ª linha para a população de risco (da qual também fazem parte nossos seniores), tendo sido criada a linha de apoio psicossocial SOS Estrela – Para conseguir estar mais perto de si. Esta surgiu como medida de prevenção, aconselhamento e intervenção, numa ótica de proximidade. O SOS Estrela distingue-se das demais linhas, não sendo apenas um meio de contacto dos seniores para a Junta de Freguesia de Estrela, mas tendo também um papel ativo, indo ao encontro aos mesmos e disponibilizando um serviço de atendimento personalizado.
Numa primeira fase, as necessidades da população mais velha centraram-se ao nível do apoio alimentar, compra de bens e, posteriormente, gestão de sintomas de ansiedade e necessidade de apoio social. Para dar resposta às várias necessidades identificadas, foi essencial a rede de parceiros institucionais, o comércio local e também os voluntários que contribuíram para que fosse possível chegarmos a todos. Até julho esta linha de apoio esteve disponível todos os dias da semana das 09h00 às 20h00.
A par destas respostas, é de salientar o espírito comunitário vivido na Estrela: após os primeiros contactos efetuados, os próprios ligaram aos seus conhecidos, vizinhos e amigos para partilhar informações sobre a linha de apoio, criando assim uma rede informal de vizinhança que potenciou e ajudou a divulgação do SOS Estrela por vários fregueses, permitindo chegar a cada vez mais pessoas. Um verdadeiro “passa a palavra”, que reflete os significados de comunidade e solidariedade vividos na nossa Freguesia.
Agora que regressamos a um “novo normal”, a linha SOS Estrela continua ativa, permitindo-nos continuar próximos, a proteger quem mais precisa, enquanto todos, enquanto Comunidade, nos adaptamos.
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