“ABAIXO OS PALAVRÕES!!! “

ABAIXO OS PALAVRÕES!!!

Crónica publicada no Jornal de Mafra

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ABAIXO OS PALAVRÕES!!!

 

Não conheço a cidade inglesa de Rochdale.

Sei que fica perto de Manchester e que foi lá que, digamos, nasceu o movimento cooperativo, em meados do século 19.

Ao que parece—e, segundo me informa a wikkipedia, lá está um museu para o recordar—tudo começou com a actividade de um grupo auto-intitulado “Rochdale Quitable Pioneers Society”, que por vários países é conhecida como” A Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale.”

Não é, admito, grande conhecimento.

Mas se hoje aqui falo de Rochdale é por motivos que, penso eu, nada têm a ver com cooperativismo.

Segundo li na revista “Sabado”, a cidade de Rochdale vai–imagine-se! —proibir os palavrões. E, para além disso, vai proibir também que as pessoas bebam na rua, andem de skate e usem equipamentos sonoros  em alto volume.

E mais: os menores de 18 anos não podem circular no centro da cidade entre as onze da noite e as seis da manhã.

Multas pesadas a quem desobedecer, claro.

Mas o que é isto?

É evidente que se todas estas coisas derem origem a desacatos, tumultos, perturbação da ordem pública—é claro que tem de haver sanções, em toda a parte é assim, mas as leis existentes resolvem isso e não é preciso agora criá-las especialmente.

Mas se as pessoas vierem pacatamente pelas ruas?

É para fazer uma cidade inteira de “probos”?

Para já, acho que só com um polícia no ombro de cada cidadão, ou um grupo imenso de bufos, é que a lei –se chegar a ser aprovada—pode ser cumprida. Tipo, “cuidado, este miúdo que vai na minha frente disse um palavrão! “ou “ Ó sr.guarda, aquele fulano que ia sendo atropelado na passadeira, disse um palavrão”—e por aí fora.

E depois há que, logo à partida, estabelecer o que é um palavrão.

Quando eu era criança, dizer “chatice” ou “giro” dava logo direito a um estalo. Ou dois.

E lembro-me, aqui há uns anos, quando eu estava no “Diário de Notícias” e assistia ao Tribunal de Polícia todas as segundas-feiras, de ver um polícia acusar um tipo porque na véspera “tinha faltado ao respeito à autoridade e dito palavrões.”

–E que palavrões? –quis saber o juiz.

— Palavrões…– dizia o guarda.

–Está bem, mas que género de palavrões?

–Ó Sr. Dr. Juiz, até me custa dizer aqui…

–Ó homem, desembuche lá!

Ele empertigou-se, tossicou, olhou em redor e acabou por murmurar:

–Ele chamou-me… “ó seu andorinha”!

Como se vê, cada qual é livre de ter a sua medida de palavrão, e os probos cidadãos de Rochdale não devem fugir à regra.

E o resto parece-me assim aquelas leis de excepção quando há recolher obrigatório…

Leio isto e tenho a sensação de estar a participar num daqueles filmes históricos que se passam no meio de sociedades mórmons ou quakers do século passado.

Miúdos em casa às onze da noite? E se estiverem numa festarola qualquer com a família e, de repente, olharem para o relógio e onde é que já vão as onze horas?

Ficam lá todos a dormir?

Ficam os miúdos e saem os adultos?

E miúdos sem smartphones ou skates?

Mas, falando agora a sério, admito que estou verdadeiramente preocupada porque a minha neta mais nova vai no verão para um colégio lá perto.

Será que vou ter de a preparar para essas coisas? É que ela há dias virou-se para o irmão e deixou escapar “ó pá não me lixes!”

Acham que dá multa?

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A publicação destas cónicas é uma parceria entre os Retratos Contados e o Jornal de Mafra.

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