Retratos Contados Pedro Pernas

Retratos Contados do ator

Pedro Pernas

 

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Retratos Contados (R.C):Pedro, Faz-nos uma pequena apresentação tua.

Pedro Pernas (P.P): Nasci no dia 8/4/1973,na freguesia de Santa Maria dos Olivais. Nasci em casa e como tal, não houve trocas de maternidade! Nasci em casa e vivi nela até aos meus 12 anos. Estudei e fui muito feliz nessa casa. Foi lá que eu descobri a música, que eu descobri que temos de respeitar muito os outros para que sejamos respeitados e tenhamos uma vida calma e feliz. Adoro tanto o meu bairro, que volteia viver nos Olivais quando fui pai. Voltei para os Olivais, pois é um bairro que alem de ser um bairro social, tem todas as infra-estruturas necessárias para se viver bem. Ou seja, tem espaços verdes, tudo o que é necessário como: acessos, escolas, centros comerciais, uma grande esquadra de polícia… Tem a Quinta Pedagógica para levar o meu filho. É um bairro excelente onde adoro viver.

 

R.C: Qual foi o relacionamento que tiveste com os teus avós?

P.P. : Foi um relacionamento maravilhoso, mais com os meus avós maternos. Os meus pais viviam com os meus avós maternos, consequentemente era com os meus avós maternos, que eu tinha mais ligação.

 

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R.C: Viviam todos juntos?

P.P: Vivíamos todos na mesma casa, sim. Os meus avós, os meus pais, eu, o meu irmão e uma tia minha que é praticamente minha irmã pois só tem mais 5 anos que eu.

 

“O meu avô era camionista de longo curso e tinha uma característica que sempre me preencheu o coração por completo.”

 

R.C: Acabaste por ser uma relação de grande proximidade com os teus avós maternos.

P.P: Foi uma relação de grande proximidade, tanto que os meus pais estavam a trabalhar e quem cuidava de mim era a minha avó uma vez que o meu avô também trabalhava. Portanto, eu ia para a escola e vinha da escola e estava sempre com a minha avó. Era a minha avó Otília, de quem tenho muitas saudades, que cuidava de mim. Portanto, foi uma relação sempre muita próxima, muito intima. Eu como era o miúdo mais novo, e ainda por cima era mimado, e quem dá mais mimos são os avós. O meu avô era camionista de longo curso e tinha uma característica que sempre me preencheu o coração por completo. Estivesse ele onde estivesse nas viagens, quando era para o dia do meu aniversário voltava trazia-me sempre uma prenda.

 

R.C: Memórias que nunca mais se esquecem…

P.P: Nunca mais vou esquecer isto, o meu avô Eduardo era um exemplo a seguir.

 

“Sentia-me um neto muito querido e muito amado também por parte dos meus avós paternos”.

 

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R.C: E dos avós paternos que recordações tem?

P.P: Dos avós paternos, tenho recordações muito boas, também. Se bem que, não tão íntimas, porque as visitas aos avós paternos não eram tão regulares. Ou seja, a convivência que tive com estes avós, não foi tão próxima como a que tive com os avós maternos, com quem vivia. Eu visitava-os de vez em quando, também com muito carinho e muita atenção, com muito amor, mas era uma relação mais de visita. Digamos que eu sentia-me um neto muito querido e muito amado também por parte dos meus avós paternos, mas estes eram uns avós que eu visitava pontualmente enquanto que, com os avós maternos vivia diariamente.

 

“Olha tens de ir já para casa porque aconteceu algo ao teu avô.”

 

R.C: Que outras recordações tens dos teus avós maternos que te tenham marcado?

P.P: Eu tive uma infância muito feliz, sem grandes contratempos e sempre com os meus avós incluídos. Tenho imensas memórias de viagens, tenho imensas memórias de visitarmos sítios juntos, e do meu avô falar de experiências dele nesses sítios e de tudo isso. Mas ao mesmo tempo, tenho uma memória muito triste em relação ao meu avô, que é das piores memórias que tenho se não a pior mesmo, que é a morte do meu avô. Eu estava na preparatória, se não me engano, no 2º ano,na altura que agora é o 6º ano. Estava numa aula de educação visual, e uma empregada da escola entrou na sala e disse-me “Olha tens de ir já para casa porque aconteceu algo ao teu avô.” Quando cheguei a casa, soube da morte do meu avô e foi a morte mais estupida que eu já ouvi falar! 40 anos de profissão nunca tinha tido um acidente e o primeiro acidente que teve matou-o e nunca mais o vi, nunca mais tive a visita dele no meu aniversário… É uma memória que nunca vou apagar na minha cabeça porque, acho que foi a maior dor que já senti até hoje, e consequentemente, isso foi uma aprendizagem para lidar com o resto da vida.

 

“A minha avó trocava muitas palavras. Dizia coisas trocadas e inventava palavras”

 

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R.C:E quais são as recordações que guardas dos teus avós, que hoje recordas com os teu filho?

P.P: Acima de tudo, as trapalhices da minha avó na fala. Brinco muito com o meu filho, porque eu às vezes sou disléxico e troco uma palavrita ou outra, e o meu filho ri-se muito. Então, sempre que isso acontece, eu conto-lhe todas as coisas que me lembro na altura da minha avó. A minha avó trocava muitas palavras. Dizia coisas trocadas, inventava palavras, ela chamava-me “BRAXODA”, porque eu era muito irrequieto. Essa palavra não existe! Recordo coisas assim, tontarias. A minha avó tinha um léxico muito fraco, e eu partilho isso com o meu filho. Conto-lhe também pormenores muito interessantes. Recordo muitas vezes da altura em que quando estávamos a ver automobilismo na televisão, estávamos todos em casa, a família num Domingo e aconteceu estarmos todos a ver o automobilismo. Um carro na rua trava e o cheiro dos pneus entrou pela casa dentro, e a minha avó sentada no sofá: “Olha vês aquela travagem!”, a apontar para o televisor “ aquela travagem cheirou!” E levantava-se para ir espreitar o carro quando eles passavam na imagem. Portanto, todas essas peripécias duma pessoa que viveu sem televisão, cresceu sem televisão e de repente teve essa novidade, e ela não percebia muito bem aquela coisa da caixinha mágica, então tinha estas peripécias todas que eu partilho sempre a rir.

 

“Sem a preciosa ajuda dos avós, o meu filho não seria a mesma criança.”

 

R.C: Qual é a importância dos avós na vida do teu filho?

P.P: Fulcral! Sem os meus sogros o meu filho muitas vezes estaria órfão! Infelizmente, ou melhor felizmente, eu e a mãe (ela também é atriz), temos de ter uma carga horária muito forte para podermos suportar a vida. Com esta profissão, é muito difícil coordenar horários para que tenhamos uma rotina diária com uma criança. Obviamente não falhamos com nada! É uma criança feliz, tem os pais presentes sempre que possível. Todo o tempo que temos para estar juntos é de excelente qualidade, modéstia à parte, mas sem os meus sogros, seria-nos impossível organizar a vida. Portanto, o que eu sinto é que, os avós do meu filho são efetivamente os segundos pais, como grande parte dos avós. Os meus sogros são literalmente os segundos pais para o meu filho. Matriculámos o miúdo no bairro deles, para que quando não possamos ir buscá-lo ou levá-lo à escola, estão lá os meus sogros para isso. Todo o apoio logístico, familiar e de amor muito forte, que o meu filho precisa, encontra ali, e que sem a preciosa ajuda dos avós não seria a mesma criança!

 

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R.C: E o relacionamento dele com os avós?

P.P: Fantástica, de principezinho.

Tem 6 anos. É o principezinho, tem tudo o que quer, tem os miminhos todos. Os avós servem para mimar, eu sempre disse isto ”os avós mimam e os pais mimam e educam, acima de tudo”. Portanto, é só mimos, faz tudo o que quer, basta dizer “EU”, já tem as coisas todas. Eu acho isso saudável, porque as crianças precisam de ser mimadas, não é só ralhetes, também tem de haver o mimo! Tem de haver esse equilíbrio, esse contrabalanço de forma a que ela cresça com uma estrutura heterogénea, e não muito regular, muito linear. A relação dele com os avós é de um amor e de uma paixão tremenda e de uma entrega que é muito ternurenta de ver. Há uma entrega total porque dos avós tem os miminhos todos, tem tudo o que quer e tem a atenção e o carinho, que por vezes eu e a mãe não podemos dar porque estamos a trabalhar.

 

R.C: Acima de tudo os avós devem:

P.P: Ser respeitados! Respeitem os vossos avós, acima de tudo! São os anciãos, são quem já viveu mais, são quem pode dar-nos os melhores conselhos, porque já passaram por muitas coisas que nós estamos a passar agora. Há que respeitar os idosos, porque cada vez, estão mais abandonados. Os idosos são os nossos avós e sem eles nós não tínhamos este futuro. Portanto, há que os respeitar acima de tudo, como nas tribos, como nas civilizações antigas que os anciãos são as pessoas mais importantes e que têm de ter toda a atenção todo o apoio e todo o carinho do resto da população. Na sociedade urbana, na sociedade atual da qual nós fazemos parte, os idosos estão a ser esquecidos, cada vez estão mais abandonados …

Não façam isso por amor de Deus!

 

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Agradecimentos: Yellow Star Company