Zez Vaz, tem jeito para o desenho, muita criatividade e não precisou procurar muito pela fonte de inspiração: os avós! Desta combinação surgiu a banda desenhada «Lelo e Zezinha», onde é retratada a vida deste casal de avós.
Zez Vaz, tem jeito para o desenho, muita criatividade e não precisou procurar muito pela fonte de inspiração: os avós! Desta combinação surgiu a banda desenhada «Lelo e Zezinha», onde é retratada a vida deste casal de avós.
Chamo-me José Vaz, chamam-me Zez. Nasci na cidade do Porto onde vivo atualmente. Tenho 29 anos. Tirei o curso de Design de Comunicação e Multimédia na Escola Superior Artística do Porto. Estudei também Animação para televisão e videojogos em Birmingham, Inglaterra.
Tenho trabalhado como designer gráfico e ilustrador/animador em videojogos, nomeadamente o jogo para mobile ZEZ (www.zezgame.com) do game designer Pedro Ribeiro, pela Artbit Studios.
Fala-nos dos teus avós paternos e maternos.
Os meus avós paternos são a Maria Cândida Vaz e o Alfredo Vaz. O meu avô Alfredo faleceu há 15 anos. Era empresário e nasceu no Porto. A avó Cândida vive aqui no Porto, com 80 anos, e nasceu em Santo Tirso.
Os meus avós maternos são a Maria José Vieira e o Aurélio Vieira, 76 e 77 anos respetivamente. Ambos são da Maia, onde se conheceram e ambos trabalhavam no Porto quando eram novos. O avô Lelo (Aurélio), era comerciante. A avó Zezinha (Maria José) trabalhou como costureira, foi catequista e mais tarde dona de casa. Vivem em São Mamede Infesta, junto ao Porto.
Que importância tiverem (e ainda têm) os teus avós na tua vida?
Sou próximo dos meus avós maternos e da avó paterna. Geograficamente estamos todos perto e isso permite mantermos um contacto semanal ou, no máximo, mensal.
Quando nasci, enquanto os meus pais estavam no emprego e antes de ir para um infantário, passei os meus dias na casa da avó Zezinha – o avô Lelo trabalhava e ela, como dona de casa, cuidava de mim. Quando era criança, os avós paternos tinham um apartamento ao pé da praia em Ofir onde passava as férias de verão com eles. Os avós Lelo e Zezinha têm quatro netos – eu, o meu irmão e os meus primo e prima.
Que características sentes ter herdado dos teus avós?
Noto que tenho muitas características particularmente do duo Lelo e Zezinha (os avós maternos). Algumas características vêm diretamente dos avós, outras passaram pelos ‘updates’ dos meus pais. Toda esta gente tem um sentido de humor muito vincado.
E teu avô Aurélio é muito emotivo e essa característica está bem presente na banda desenhada. Herdaste essa característica do teu avô “Lelo”?
Herdei! O meu avô é um disparate, ele chora em todos os eventos de família. Quando alguém faz anos, ao brindar, ele estima saúde e essas coisas bonitas e desmancha-se em lágrimas! É muito querido o meu avô e sabe-se sempre o que ele está a sentir. Não que a avó Zezinha seja menos sentimental, mas ninguém demonstra como o avô Lelo. É involuntário! Eu também sei chorar. Choro facilmente com um bom filme da ‘Pixar’, por exemplo.
Quais as memórias mais antigas que tens com os teus avós?
Lembro-me bem das férias de verão em Ofir, em criança, com a avó Cândida, a avó paterna. Eu e o meu irmão passávamos a tarde toda na rua a andar de bicicleta com todas as outras crianças que lá paravam. A avó não nos deixava entrar em casa até à hora do jantar porque “tínhamos de brincar era na rua”. Havia uma Nintendo em casa e muitas das tardes eu lembro-me que preferia estar a jogar computador ou a desenhar do que aturar os amigos, mas olhando para trás prefiro a ideia dela nos forçar a estar na rua. Eu cresci nos anos 90 e parece que sou da última geração em que se brincava na rua com os vizinhos porque a internet só apareceu mais tarde e ligava-se pelo telefone e era uma seca. Ainda bem.
Com os avós maternos, Lelo e Zezinha, há mais reuniões familiares ao longo do ano. Vou jantar a casa deles pelo menos uma vez ao mês. Há um contacto próximo. Passo os Natais em casa deles. Eu não me lembro disto, mas a avó Zezinha conta-me regularmente a história da vez em que eu disse pela primeira vez a palavra “vovó”! A história é que eu estava no berço enquanto ela estava a cozinhar e eu queria mesmo era sair do berço. Estar preso no berço não era a minha onda. Então eu disse “vovó” pela primeira vez na vida e ela parou tudo e pegou-me ao colo a chorar de alegria. Depois disse-me “diz outra vez: ‘vovó'” e eu não voltei a dizer mas ela tirou-me do berço, que era o que eu queria! Ela chama-me “estupor” por causa disto. Ela chama muitas coisas aos netos. Durante um tempo e inspirado no Gato Fedorento, fiz um grupo de comédia com o meu irmão e os meus primos chamado ‘Macacos Fardados’ e punha os sketches que filmávamos no YouTube. ‘Macacos Fardados’ era um nome que a avó Zezinha nos dava sem nenhum motivo. Por isso, tal como a banda desenhada ‘Lelo e Zezinha’, este outro projeto teve um nome relacionado com ela!
O papel dos teus avós na sua vida, foi determinante para a se tornares no que és hoje?
Foi, porque passei muito tempo com eles e aprendi muito com eles. Fiquei com muito do sentido de humor dos avós Lelo e Zezinha. Quando me meto com eles ou puxo por eles para nos fazermos rir uns aos outros eles sabem sempre como responder. Têm subtilezas de humor britânico que não sei onde foram buscar! Também ninguém se trava nos palavrões, não dizemos muitos necessariamente, mas ninguém se trava. Tenho conversas hilariantes com eles. Sempre que vou lá a casa jantar é como se estivesse num backstage com comediantes. Muitas vezes sou eu que estou melancólico e são eles a puxar por mim.
Retratos Contados da tua infância.
Cresci no Porto. Passei a infância a desenhar, a ver desenhos animados e a brincar com Legos até ter idade para parecer mal. Aprendi a ler antes de ir para a escola porque queria saber o que diziam os livros sobre dinossauros. Os natais em casa do Lelo e da Zezinha foram sempre bons acontecimentos. O avô Lelo veste-se de Pai Natal todos os anos, ainda o faz.
Quando decidiste seguir o curso que tens? Era uma carreira com a qual sonhavas?
Não sonhei com design gráfico, parecia só uma aposta relativamente sensata e interessante na altura. Eu dou-me bem com atividades que envolvam criatividade. Na escola fui para Artes porque os outros agrupamentos nem eram uma opção. Estudei design gráfico na faculdade onde aprendi que conseguia e gostava de fazer animação então fui estudar o assunto. Ao estudar animação ganhei mais curiosidade pela narrativa. Ao preocupar-me com a narrativa fui absorvido pela comédia e sobre o que faz as pessoas rir. Sou um ‘geek’ de comédia, absorvo tudo o que posso e cheguei a fazer Stand Up. Stand Up é muito agressivo quando as piadas não passam, coisa que tem de acontecer frequentemente para quem começa, por isso uso a banda desenhada para passar ideias ou histórias. Assim aproveito a minha curiosidade por ilustração, narrativa e comédia.
Estiveste um ano em Birmingham, Inglaterra a estudar animação, nas vertentes de desenhos animados de televisão ou videojogos. Como foi essa experiencia de um ano?
Foi impecável, aproveitei a hipótese de viver fora do país na altura que queria. A indústria da animação e dos videojogos é muito mais forte em Inglaterra.
Como lidaste com a ausência dos teus avós? E eles, como lidaram com a tua ausência?
Na altura eu queria mesmo sair um bocado do país. Embora ficasse com saudades deles, lidava bem com isso. Já eles, acho que lidaram pior e sentiram mais essa falta.
O que aprendeste com os teus avós, influenciou-a de algum modo a seres o que é hoje?
Sim, eles são bons exemplos!
Como surgiu a ideia da webcomic “Lelo e Zezinha”?
Surgiu a oportunidade de ficar com o espaço da tira da banda desenhada no jornal Vivacidade, onde trabalhava como designer. Ao inventar um comic queria que tivesse personagens recorrentes. O Lelo e a Zezinha foram das primeiras personagens que desenhei e a reação foi muito positiva, então continuei. Tenho de salientar que as personagens do comic refletem o meu sentido de humor e as minhas observações e não são histórias dos meus avós. Uso os nomes, aparência e traços de personalidade deles, mas tudo o que acontece nos comics são invenções minhas.
Os teus avós sentem orgulho do sucesso em que se tornou?
Acho que, para os meus avós, eu fazer desenhos parecia mais uma brincadeira e quando comecei a desenhar o Lelo e Zezinha e a aparecer no jornal, isso credibilizou alguma coisa porque eles realmente parecem estar a ver mais valor na ilustração.
Qual a reação dos teus pais quando viram o resultado do teus trabalho, inspirado nos teus avós?
Os meus pais gostam dos comics e partiram-se a rir quando viram as personagens pela primeira vez.
Antes de ser em webcomic “Lelo e Zezinha” começou por ser uma banda desenhada publicada no jornal da região de Gondomar, O Vivacidade. Depois passou a ser publicada no jornal regional O VivaDouro”. Hoje em dia aparecem reportagens sobre estes trabalhos em jornais de distribuição nacional, em canais de televisão…
Como lidas com este sucesso? Como lidam os “protagonistas” Maria José e Aurélio com tudo isto? E os teus pais?
Eu fico mesmo satisfeito sempre que vejo o meu trabalho a ser reconhecido e quero fazer os comics chegar ao máximo de pessoas possível. Os protagonistas estão todos contentes porque não estavam à espera que isto de ir a Lisboa, e porem maquilhagem para aparecer no programa da manhã como vedetas lhes acontecesse aos 70 e tais anos de idade! Os meus pais também acham um piadão a isto tudo que está a acontecer. O meu objetivo com os comics é continuar a publicar online, trazer gente comigo e publicar em livro com conteúdo extra. Não há um modelo de negócio exato para ‘webcomics’ seguirem, por isso vou explorar vários caminhos para monetizar o Lelo e Zezinha. Se o conseguir, há potencial para fazer estas personagens evoluir mais umas boas temporadas!
Quais as diferenças entre o Zez Vaz e o José Vaz?
Toda a gente me chama Zez desde pequeno por isso naturalmente ficou como nome artístico, José é o nome que vem no cartão de cidadão.
Quais têm sido os teus maiores desafios como neto?
Não sei se passei por grandes desafios como neto. Mesmo em questões de saúde, não aconteceu nada de grave, felizmente. Na verdade, os meus avós são tão jovens de espírito, que me esqueço que já estão prestes a entrar no casa dos 80.
O que distingue o teu trabalho dos outros ilustradores? Qual é a “tua assinatura”?
Faço constantemente personagens que parece que saíram de desenhos animados da Cartoon Network. A palete de cores faz lembrar guloseimas ou gelados. Gosto de cores fortes, contrastantes e linhas de contorno. Foco muito em personagens.
Que outros projetos gostarias de vir a fazer? Que sonhos gostarias de realizar? Qual o teu “projeto de vida”?
Gosto de me envolver em projetos que me dão liberdade criativa, é quando me sinto no meu elemento. Quero escrever filmes e documentários, dar concertos pelo mundo (toco bateria), criar uma série de desenhos animados… Eu vou parar por aqui com os exemplos, mas a ideia é que vou agarrar qualquer uma dessas oportunidades, caso surjam.
Quais são as melhores recordações dos teus avós, que um dia vais querer partilhar com os seus filhos?
A amizade deles, as visitas de rotina, o exemplo de companhia que eles são um para o outro.
Os Retratos Contados apresentam-se como um projeto único e diferenciador, uma vez que nos focamos numa área diferente do habitual.
O nosso objetivo é o de falar das ligações entre avós e netos. A importância dos papel dos avós na vida dos netos e vice versa.
O que acha deste projeto?
Acho os Retratos Contados um projeto muito interessante e um arquivo único de histórias sobre este laço tantas vezes esquecido – o de avós e netos.
Através da nossa página queremos ainda falar de envelhecimento ativo, do abandono dos idosos, dar a conhecer atividades para serem feitas pelos mais velhos, ou para os mais netos fazerem com os netos …
Quando olhas para o nosso país, como vê a população mais velha?
Temo pelos que não têm família ou que são abandonados ou que não têm dinheiro para sobreviver. É muito triste. Pessoalmente, ainda não senti na pele um envelhecimento drástico dos meus avós e na verdade evito pensar nisso enquanto não é uma realidade. Noto que aprecio cada vez mais as pequenas rotinas na companhia deles. Não vai durar para sempre.
Como lidas quando ouves noticias sobre: Abandono de idosos, avó mal tratados pelos netos …?
Mete medo e é demasiado triste.
O Zez Vaz, a avó Maria José, Avô Aurélio,o Lelo e a Zezinha foram à TVI ao programa Você na TV:
http://www.tvi.iol.pt/vocenatv/videos/a-banda-desenhada-criada-pelo-neto/55d5ae010cf27c890ef3e31f