A Inês Ribeiro sempre foi fã do Indiana Jones. A Raquel Policarpo queria seguir a carreira diplomática. As duas são amigas, e têm muito em comum, principalmente o amor pela arqueologia. Juntas criaram a Time Travellers e agora lançaram o fantástico livro Segredos de Lisboa. Neste livro dão a conhecer uma Lisboa desconhecida que está à espera de todos nós.
Os Retratos Contados foram saber mais sobre a vida destas duas arqueólogas e partilhamos convosco esse testemunho.
Quem é a Inês e a Raquel?
Inês: Chamo-me Inês Ribeiro, nasci em Lisboa a 28 de Abril de 1984. Tirei História, variante Arqueologia e sou fã dos romanos! Ainda faço trabalhos de Arqueologia por esse Portugal fora mas agora estou mais centrada na Time Travellers, um projeto meu e da Raquel.
Raquel: Sou a Raquel Policarpo, nasci em Lisboa a 20 de Junho de 1984 mas cresci em Santa Iria da Azóia. Tenho o curso de História, var. Arqueologia e, tal como a Inês, também me interesso sobretudo pela Arqueologia Romana. Agora dedico-me sobretudo à Time Travellers, mas de vez em quando ainda faço uma perninha na Arqueologia preventiva, sobretudo em Estudos de Impacte Ambiental e acompanhamento de obras.
Falem-nos dos vossos avós paternos e maternos.
Inês: Os meus avós paternos são de Proença-à-Nova, Castelo Branco. Já só conheci a minha avô Isabel porque o meu avô Zé morreu pouco tempo depois de eu ter nascido. A minha avó sempre trabalhou no campo e em casa de famílias e o meu avô chegou a ser o alfaiate da terra.
Tive mais sorte com os meus avós maternos, que conheci os dois, apesar de o meu avô António já ter falecido há vários anos. Tanto ele como a minha avó Quina (Joaquina para os restantes!) trabalharam a vida inteira no campo. São do Alto-Alentejo onde também nasceu a minha mãe.
Raquel: Os meus avós maternos viviam em Lisboa mas morreram quando a minha mãe ainda era pequenina. Ela própria mal se lembrava do pai, que já pouco conheceu. Sei muito pouco sobre eles, na verdade…
Os meus avós paternos moravam no campo, perto de Rio Maior/Alvorninha, numa aldeiazinha chamada Pego. Já não me lembro do meu avô, que morreu quando eu era pequena, e pouco conheci a minha avó, que ainda durou mais anos mas já muito debilitada. O meu avô dedicava-se à agricultura e a minha avó ficava em casa a cuidar dos seus 10 filhos (!!), como era habitual na altura.
Que importância tiverem os avós nas vossas vidas?
Inês: Como não convivi muito com os meus avôs, o pouco que sei deles foi-me passado pelas minhas avós e pais. Assim, não posso dizer que tiveram um especial impacto na minha vida, apenas o facto de serem os pais dos meus pais e da importância que tiveram na vida destes. As minhas avós foram bem mais importantes nesse sentido. Com elas aprendi coisas boas mas também más. Hoje não tenho contacto com a minha avó materna e com esse corte aprendi que a família nem sempre se escolhe. Com a minha avó materna aprendi que temos sempre um sitio onde somos bem recebidos e que pode ser a nossa Casa. A minha avó Quina é uma espécie de pilar da nossa família e apesar de estar longe (ela vive em Alpiarça, Santarém), falamos muitas vezes e sempre que podemos vamos ter com ela.
Raquel: A morte dos pais e o que depois se passou a vida da minha mãe acabou por moldá-la muito, e por isso indiretamente a ausência deles foi sempre muito pesada na minha infância. Hoje que sou mais crescida e mãe, consigo compreender melhor a tristeza que a minha mãe trouxe sempre consigo. Ela também já não está cá, e eu vou tentar lembrar-me sempre de não passar ao meu filho a tristeza mas sim as coisas boas e a memória dela.
Já os meus avós paternos deixaram a sua marca sobretudo nas histórias que sempre ouvi contar, sobre uma vida familiar tão numerosa e com tão poucos confortos comparados com o que temos agora, mas feliz.
Que características sentem ter herdado dos vossos avós?
Inês: Eu acho que herdei das minhas avós a persistência e a coragem de viver. Elas não tiveram vidas fáceis, trabalharam sempre no campo e a contar os tostões mas nunca desistiram e educaram os seus filhos com o pouco que tinham. São mulheres duras apesar de muito diferentes. No caso da minha avó Quina ela passou essa vontade de viver para a minha mãe e a minha mãe para mim e para a minha irmã. Aconteça o que acontecer não desistimos e nunca deixamos de rir!
Raquel: Sinceramente não sei…
Quais as memórias mais antigas que têm dos seus vossos avós?
Inês: As memórias mais antigas são das nossas idas à terra, tanto a Proença como a Alpiarça. Lembro-me de “espiolhar” as casas, ver as fotos antigas, os brinquedos dos meus primos. Não posso dizer que tenha uma memória específica já que foram avós presentes na nossa infância apesar da distância.
Raquel: Não tenho… Só me lembro da minha avó sempre em cadeira de rodas e já com a demência própria da idade, a viver num tempo passado que já não era o meu.
O papel dos avós nas vossas vidas, foi determinante para a se tornarem nas mulheres que são hoje?
Inês: Tal como já disse atrás, sim. Com as minhas avós aprendi muitas coisas. Aprendi formas de encarar a vida e os obstáculos. Com os meus avôs aprendi que a vida é curta e que nem sempre temos a oportunidade de estar e conhecer melhor aqueles que amamos.
Raquel: Provavelmente, mas mais o papel que tiveram na vida dos meus pais. A morte dos meus avós maternos mudou a vida da minha mãe radicalmente, pois ela e a irmã passaram de uma vida familiar relativamente normal para um colégio interno onde eram tudo menos bem tratadas. Isso influenciou-a muito e certamente a educação que me deu também. Já o meu avô paterno, ao contrário do que era normal na época e naquela zona, insistiu sempre que os filhos fossem à escola e foi graças a isso que todos acabaram por deixar a aldeia e vir para Lisboa. Certamente que a mulher que sou hoje seria diferente se o meu pai nunca tivesse vindo para Lisboa e fosse agricultor.
Falem-nos da vossa infância.
Inês: Eu tive uma infância tranquila apesar de sempre consciente de viver numa família com muitas dificuldades. Tive e tenho uns pais maravilhosos que apesar de tudo me mostraram que há coisas mais importantes que o brinquedo mais popular ou as roupas de marca. Sempre que podíamos íamos até às terras deles e como os meus avos ainda trabalhavam, não tínhamos muito tempo de passeios. Lembro-me de irmos ter com eles à quinta onde trabalhavam ou à horta que tinha de ser tratada todos os dias. Lembro-me de ajudar tratar dos animais, fazer a vindima, ou ir à loja, coisas simples do dia-a-dia.
Raquel: A minha vida familiar teve sempre dificuldades de várias ordens, mas lá pelo meio fui sempre uma criança feliz e que não parava quieta ou calada. Costumávamos ir muito à terra do meu pai, as minhas recordações mais felizes foram passadas na nossa casa de família, no meio dos meus tios e primos todos. Apesar de o meu núcleo familiar ter menos possibilidades, no resto da família materna e paterna isso nem sempre era o caso, portanto eu fui tendo a sorte de viver e experimentar algumas coisas que os meus pais não me podiam proporcionar, sobretudo com os meus tios todos. Vivi o melhor dos dois mundos e aprendi que ambos têm coisas boas e más.
Quando decidiram seguir o curso que têm? Era uma carreira com a qual sonhavam?
Inês: Eu sempre gostei de História e sempre fui fã do Indiana Jones! Assim, quando entrei para o secundário, a escolha pareceu-me obvia e lá fui eu. Não era a carreira que tinha em mente (e não por causa do Indiana Jones) principalmente porque depois de terminar o curso, a saída mais comum estava e ainda está relacionada com os acompanhamentos de obra. Investigação é algo que, infelizmente, não há muito em Portugal.
Raquel: Eu sempre adorei História e Arqueologia mas nunca pensei seguir essa área, queria seguir Relações Internacionais e a via diplomática. Como fiz um intercâmbio no 12º, não tive aquela orientação que os alunos costumam ter durante o ano e quando me candidatei à faculdade não sabia bem o que estava a fazer e acabei por só preencher uma opção de Relações Internacionais e as outras todas de cursos relacionados com Arqueologia. Como foi nesse que entrei, resolvi fazer um ano e no final pedir transferência para RI. Mas durante o ano fui gostando e, depois de participar na minha primeira escavação (que foi a pior de todas em que depois participei!), resolvi ficar.
A Time Travellers tem página no Facebook e um site.
Inês: Podem encontrar o nosso site através do www.timetravellers.pt e lá também encontram o link para o facebook.
Que projecto é este?
Inês: A Time Travellers é uma agência de animação turística dedicada ao turismo arqueológico que tem como objetivo mostrar a Arqueologia de Portugal e mudar a ideia de que a História é uma seca e que a Arqueologia só serve para parar barragens!
Falem-nos do livro Segredos de Lisboa.
Este livro acaba por ser um complemento do vosso trabalho com a Time Travellers. Era um sonho que há muito desejavam realizar?
Raquel: Há muito tempo que tinha o sonho de escrever um livro, sim. Sempre adorei ler e escrever, uma das minhas prendas de Natal mais marcantes durante a infância foi uma máquina de escrever, que pedinchei durante meses e depois utilizei durante anos para escrever histórias, contos e inícios de grandes romances! Quando começámos a trabalhar na T.T. nunca nos ocorreu que o que fazemos pudesse ser transposto para um livro, mas depois de a ideia inicial começar a ser trabalhada e desenvolvida percebemos que fazia cada vez mais sentido.
Que outros projectos gostariam de vir a fazer? Qual o vosso “projecto de vida”?
Inês: Apesar de não ser do tipo de pessoa que planeia a vida, gostaria de formar família um dia. Casar, ter filhos, já que escrevi um livro e só falta plantar a árvore! Gostaria também de ver a Time Travellers crescer já que para mim é uma espécie de filho que “tivemos”. Trouxemos este projeto ao mundo, estamos a criar as suas fundações e espero que um dia, nos leve muito além do que tínhamos imaginado. O livro é um bom exemplo disso.
Raquel: Quando olho para a minha vida hoje percebo que ela não tem nada a ver com o que sempre projetei, mas a verdade é que sou feliz, por isso já percebi que planear não me leva a lado nenhum! Gostava de ver a empresa crescer e gostava muito que esse crescimento trouxesse coisas boas a outras pessoas, criar emprego, contribuir para outras vidas, mas tudo o que vier para além disso será uma surpresa e é assim que me apetece viver agora. Talvez no futuro volte a projectar e a planear, mas para já apetece-me mais ir vivendo.
Aconselham os vossos passeios e actividades para serem feitos por avós e netos?
Raquel: Claro! Já tivemos muitos avós e netos a fazerem os nossos passeios, e ao contrário do que se possa pensar a ideia nem sempre foi dos mais velhos! Como eu nunca tive isso, acho muito engraçado quando a relação avós/netos vai para além dos pais, que na prática foram os intermediários, quando os netos combinam programas só com os avós e vice-versa. Também é óptimo ver como a vida dos avós se renova e recicla com os netos, muitas pessoas nunca na vida pensaram fazer um peddy-paper e acabam por se divertir imenso porque foram “arrastados” pelos miúdos.
Quais os Segredos de Lisboa que lhes foram revelados pelos vossos avós?
Inês: Aqui podíamos fazer a pergunta ao contrário já que os meus avós poucas vezes vieram a Lisboa e foram mais as vezes que lhes dei a conhecer a minha cidade!
O livro Segredos de Lisboa foi apresentado em diversos órgãos da comunicação social.
Fica aqui o link do programa Você na Tv para que possam saber mais sobre o livro e descobrir mais sobre a magnifica cidade de Lisboa.
http://www.tvi.iol.pt/vocenatv/videos/os-segredos-da-cidade-de-lisboa/55d6f31e0cf288abc4166a2b